quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Pela liberdade de expressão

Por vezes, e por circunstâncias variadas, surge o tema das liberdades de expressão e de crítica, versus actividades censórias. Seja como for, o tema é sempre actual, independentemente do forum em que possa surgir. Por isso, dispenso-me de explicitar que o que aqui deixo escrito se insere na discussão que ocorre no jornal x, auditório y ou tertúlia z.
Quando Almada Negreiros desancou Júlio Dantas no seu célebre Manifesto anti-Dantas - que recomendo seja consumido por via sonora, na declamação de Mário Viegas -, ficou-nos um documento histórico e artístico. Pode-se gostar ou não dele, concordar ou não, mas que está ali uma obra literária, ninguém o poderá negar. 
Os exemplos de polémicas entre literatos - e outros - são infindáveis: Artur Portela (Filho) contra Mário Castrim, Antero contra Ortigão, Camilo contra um mar de gente. Nem todas se pautaram pela elevação, mas enfim, nem sempre se perdeu tudo, ganhando-se, às vezes, alguma coisa. 
Quer isto dizer que o insulto ou a difamação, desde que literários, são legítimos? Nem por sombras. No entanto, se alguém diz que eu não escrevo bem, que os meus temas preferidos não interessam a ninguém, ainda que de forma “apimentada”, com mais ou menos graça, devo considerar tais opiniões como insultos? Claramente, não. O que tenho a fazer? Apelar para os tribunais, ou defender os meus pontos de vista, se são contrários? Vou por aqui, como sempre fiz, quando “acossado”, neste e noutros sítios da vida. E, algumas vezes, até achei piada às críticas.
Os criadores, de qualquer arte, aqui incluindo a exposição pública de opiniões, atraem a crítica, sendo, naturalmente, muito mais fácil - e divertido! - dizer-se mal. Desgraçado estaria o mundo se, perante qualquer crítica, todos ficássemos “amuados” e nos demitíssemos do nosso dever de nele intervir. Acabava-se a criação artística. Convém, pois, em minha opinião, que alijemos susceptibilidades exageradas, sobretudo quando expomos à opinião pública as nossas criações. Mal estaríamos se só houvesse elogios e pancadinhas nas costas. Mas insultos e difamações, isso não, repito.
Aqui poderá iniciar-se a discussão de um outro problema: o de saber se “tal coisa” é insulto ou não. Se há questões em que a subjectividade impera, esta é uma delas. Haja, pelo menos, bom-senso, limites razoáveis que se não devem ultrapassar, e não vamos só pensar que quem não concorda connosco está a insultar-nos. E se, dentro dos tais “limites” que são muito difíceis de definir, utilizam a ironia contra nós, será preferível pensar que estão a dar uso a um seu direito e, se tivermos engenho suficiente, só teremos é que responder à letra.
Muito do que aqui escrevi pode não estar totalmente correcto ou mesmo ser totalmente incorrecto. Lá está, é o risco de expor uma opinião. Mas não deixo de pensar que, num espaço como este blogue, tem algum cabimento.

3 comentários:

  1. Obviamente que tem cabimento. O que não posso deixar de dizer é que, embora o José fale de insultos e difamações, acabe por se focalizar nos insulto, mas... e as difamações? Os primeiros são "somente" má educação e truculência, mas as segundas são mesmo má índole.

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