domingo, 1 de setembro de 2019


A outra face da riqueza...


Diz-se na Time que a remuneração do trabalho dependente da gorjeta – tipped Works – é antigo nos Estados Unidos, cujo conceito se tornou aceite quando, em meados do século desanove, deambulavam pelas cidades os escravos “libertados”, sem eira nem beira, que mendigavam trabalho como criados, cozinheiros, barbeiros e porteiros, mas a quem os empregadores não sentiam obrigação de pagar um salário certo; esta vergonhosa exploração vai hoje de vento em popa, porque a última recessão atirou para trabalhos mal pagos milhões de pessoas que perderam empregos razoavelmente remunerados e desceram na escala social.

A Time acompanhou uma empregada de mesa em Philadelphia, a quem o patrão devia pagar 2.13 US dólars por hora, que é o mínimo de lei para esta classe de trabalhadores, “but one of her recent paychecks read 58.67 US dólars for 49 hours worked”, ficando o seu rendimento dependente daquilo que os clientes lhe deixam em cima da mesa.

Mãe solteira, com uma menina de nove anos, trabalha no limite da resistência física porque, diz, I have to make sure that my daughter has a roof over her head”; baixos salários, mínimos benefícios, horário laboral imprevisível; para um número cada vez maior de americanos sem instrução superior, não só imigrantes,  é este o futuro, na selvajaria do capitalismo...


Amândio G. Martins

12 comentários:

  1. Há nessa história que a Time reporta, há algo de estranho. Já me tinham avisado e constatei-o nas duas vezes que estive nos EUA, já neste século, em estados diferentes, a "gorgeta" não é "o que os clientes deixam em cima da mesa", mas sim uma percentagem do custo do serviço ( falo da restauração), julgo que entre 10% e 15%, e vem incluído e discriminado na factura.
    Nota: ao dizer isto, não significa que esteja de acordo com a modalidade, nem com a que descrevo e muito menos, como é óbvio, com a noticiada pela Time e trazida pelo Amândio Martins. A um trabalho deve corresponder um salário justo.

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  2. Pois devia mas, neste trabalho de nove páginas dedicado à situação económica do país, os jornalistas Alana Semuels e Malcolm Burnley ouviram dos especialistas previsões nada animadoras: Empregadas de mesa é o tipo de oferta de trabalho que se espera mais cresça na economia americana na próxima década; "low-wage service work with no guaranteed hours or income"...

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    1. Eu não ponho em dúvida ( ou porei um bocado...) o que os jornalistas analisam e concluem. Continuo é sem saber se a "gorgeta" é o que eles dizem ou que o que eu referi. Apesar de tudo, as ilações resultam dos dados estudados.

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  3. A propósito... Nos EUA mais de 22 mil trabalhadores da grande empresa de telecomunicações AT&T lutam com greve contra a caducidade do contrato colectivo imposto pela administração da empresa. Segundo o registo estatístico da Casa Branca, em 2018 houve mais trabalhadores americanos em greve do que em toda a década anterior e o número de greves é o mais elevado desde 1986. Em 2019 também já recorreram à greve 150 mil trabalhadores da indústria automóvel, 60 mil dos supermercados, 85 mil profissionais de saúde e 25 mil professores estarão para o fazer. O capitalismo americano mostra-se menos dialogante com o desenvolvimento dum processo de fascização em curso, obrigando a habitual disponibilidade negocial da AFL-CIO ser substituída pela luta devido à reforçada intransigência patronal...

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  4. Também a "propósito"... felizmente para a democracia, continua a justa luta cidadã de Hong Kong contra as diatribes fascizantes do comunismo da China...
    Nota: O Ernesto Silva não achará de bom tom identificar uma sigla quando é colocada a primeira vez num texto? Nem todos podemos saber o significado, não é?

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  5. Em Hong Kong anda lá a mãozinha da CIA (Agência Central de Inteligência), os serviços secretos dos EUA (Estados Unidos da América), o que não é uma boa recomendação para a democracia... Na China não há comunismo... e muito menos fascismo...

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  6. Tecnicamente, quando há pelo menos dois poderes dos três que se conhecem, legislativo, executivo e judicial (fora o moderador, que é uma "invenção", às vezes útil), poderemos estar a falar de tudo, mas de democracia, não.

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  7. Confesso que não percebi mesmo o comentário do José Rodrigues. Qanto ao último do Ernesto Silva... percebi-o (e entendi-o) muito bem... Ah, e o que é a AFL-CIO, agora que pelo menos já sei que significa EUA...

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    1. Imperdoável imprecisão da minha parte. O texto deveria conter a seguinte expressão (em maiúsculas): ...às vezes útil), EXERCIDOS PELA MESMA ENTIDADE, poderemos estar a falar... Peço desculpa.

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  8. AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e Congresso das Organizações Industriais) é a maior central sindical dos Estados Unidos da América...

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