sexta-feira, 13 de novembro de 2020

A ginástica do insiste, insiste

De tão repetida, em múltiplos quadrantes e por diversificados intérpretes, há-de vingar a ideia de que o Chega está à mesma distância do centro da democracia que o BE e o PCP. É o conhecido fenómeno de repetir mil vezes uma mentira para que ela se torne verdade. Por mim, não vinga.


8 comentários:

  1. Se o José está a falar do "insiste, insiste" do PSD, na patética figura que faz para justificar o injustificável, no que concerne ao acordo dos Açores, tem razão. Igualmente quanto aos "apêndices" que o acolitam em opinião. Não partilho é do seu progmóstico de que vai vingar essa "ideia".
    Porque é falaciosa a comparação, para quem, como no meu caso, saiba que nunca esta se pode fazer em tempos contemporâneos, tendo em conta que o "centro da democracia" é, no caso, a Constituição, e o Chega é um partido que a não respeita "à descarada" e não esconde que as suas propostas são herdeiras directas do nazi-fascismo. embora assim não as designe. Isto enquanto o PCP, não o faz, até porque aquela é o último baluarte de sobrevivência depois da implosão do comunismo simbolizado na queda do Muro de Berlim. O BE não tem este antecedente factual e resulta duma amálgama feita da colagem de várias ideologias esquerdistas que se entende com o PCP sob uma fina pátina de boa convivência, mas bem distante na "ideologia".
    Resumo: o PSD estilhaçou a direita democrática ao "coligar-se" com a serpente que vai medrando aos poucos, com ideologia "requentada". Isto embora nunca esqueça que o comunismo soviético que nunca largou o PCP como âncora ideológica - agora arbitrariamente em comparação espúria no "insiste, insiste" - tivesse feito pacto idêntico ao do PSD/Chega, no início da 2ª Guerra Mundial, aquando da invasão da Polónia. O "insiste, insiste" não vai colher para o PSD e acólitos, mas a "bondade" do PCP ( o BE tem outras "nuances, como já aflorei), tem muito que se lhe diga, se tivermos memória alargada e virmos todo o evoluir da História.

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    1. Com toda a sinceridade, na minha argumentação, não me parece ter sido falacioso, que é coisa em que só por distracção poderei incorrer. Basta lembrar que estamos a falar, por um lado, de um partido que não só escarnece da Constituição, como espezinha os próprios direitos humanos, e, por outro, de dois partidos que, relativamente a certas questões de ordem material, como a distribuição da riqueza e do rendimento, o direito de propriedade (sobretudo de bens de produção) ou a organização social e alinhamento internacional, defendem ideias diferentes do "statu quo" existente. (Sobre estas questões “materiais” e a sua evolução ao longo da História, muito poderia eu escrever, mas o tempo e o espaço não o permitem). A diferença parece-me abissal, e se a falácia reside na sua “certeza” de que a “ideia” não vai vingar, olhe que me parece que ela já está aí de pedra e cal. Pelo menos, não falta quem a papagueie, mais ou menos sub-repticiamente, marteladamente, aos quatro ventos.
      Deixe-me lembrar ainda que, aquando da constituição da “geringonça”, a ninguém passou pela cabeça que o país corria o perigo de se “sovietizar”. Acho eu. Aliás, nos dias que correm, temer que os dirigentes do PCP tenham alguma coisa a ver com Stalin e a sua praxis, só mesmo para agitar papões… que não me assustam. Para mim, a mãozinha que Rio aceitou do Ventura é simplesmente repelente, e os apertos de mão de Costa com Jerónimo e com Catarina foram literalmente libertadores de uma realidade igualmente repelente. Também isto é falacioso?

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    2. Se reparar bem, eu não chamei falacioso a si mas, precisamente... à comparação que os do "insiste" fizeram.
      Concordo consigo que ninguém pensou na sovietizaçāo do pais em 2015 mas...em 1974/75? Precisamente porque.... o PCP, nessa altura, tinha "âncora" que entretanto implodiu. Mário Soares não lhe " lhe deu a mão " que agora Rui Rio estendeu ao Chega. Chega esse que precisava dela para, "ancorado" ideologicamente num passado, necessita de "passadeira" no presente para fazer caminho.
      Termino com uma referência ao seu elogio das "boas" qualidades do comunismo. Esqueceu-se de "uma": a coartaçāo da Liberdade no espaço soviético. Conta pouco? Para mim, não. E, pelo visto, para milhares de pessoas que derrubaram o Muro. É passado? Também o fascismo era - e acredito que o continuará a ser - mas Rio quiz dar uma ajudinha. 1974 vs 2020, paralelismo espurio? Não, somente História, que corre depressa mas em que ambos os diferentes protagonistas... " no pasaran".

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    3. Não posso deixar de louvar a sua devoção pela Liberdade que, aliás, partilho com veemência. No entanto, bem sabemos quem é que, neste mundo em que vivemos, se assenhoreia e aproveita das respectivas vantagens. Portanto, acho que se deve caldear o conceito com outro que, para mim, lhe é indispensável, a fim de evitar um isolamento que pode ser - e foi com demasiada frequência - pernicioso. Trata-se da Igualdade que, não sei porquê (ou sei?), não vejo tão celebrada. E nesta vida em que tudo o que é mau ou bom, incluindo a Liberdade, serve para aprofundar as desigualdades, talvez se percebam algumas das minhas inquietações.
      Não esqueço a “liberdade” do Stalin, como também não esqueço que o país das liberdades teve episódios de que dou, como mero exemplo, o desnecessário Enola Gay. As ideologias não são culpadas do que alguns actores fazem com elas.

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    4. O José "mudou a agulha" e assim desviou o nosso debate para outro lado. Mas também não terá sido mau, embora agora ele se faça no plano da igualdade, já que concordamos que a Liberdade é primordial mas, quanto a mim, não pode nem deve caldear a primeira, o que, no comunismo soviético, era impossível pois não havia nem uma nem outra (acha que havia igualdade?). Quanto ao que o neoliberalismo rapace tem feito ( foi para aí que o José desviou a "agulha...), após 1989, nunca me ouviu ou ouvirá defendê-lo. O que acho é que não é o comunismo e, por maioria de razões, o fascismo.... que serão soluções alternativas. Diz que os EUA a que chama "país das liberdades" faz asneiras e desaforos "como os outros", e é verdade, como o rerido caso de Hiroshima ( a que chama de Enola Gay ), mas comigo não colhe, até porque, se isso existe, a minha "pátria das liberdades" é muito mais a França. Os EUA têm, ao menos, a vantagem de não se confundirem com Trump ( coisa que os comunistas fazem intencionalmente), como se viu há dias. Termino, como o José, com as ideologias vs actores que as praticam. Volta a ter razão pois foi mesmo a praxis comunista que desacreditou a ideologia, mas, que quer, nunca mudaram o rumo e preferiram implodir que sair da cartilha... Agora estão "recolhidos" mas não mudaram, pergunte-lhes se assim não é. Ainda há pouco, neste mesmo local, li que " os Gulag eram campos para detenção dos inimigos do povo soviético". Não leu também? Mas termino com a actualidade e essa é o (proto)fascismo a que o PSD deu a mão numa atitude que tem tanto de surpreendente estupidez como de má índole.... mas aí estamos de acordo.

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    5. De agulha em agulha, corremos o risco de cair no dedal (até viria a despropósito lembrar aqui o Chega, chega a minha agulha, da Beatriz Costa…). Ao contrário do Fernando, como já disse, entendo que não se deve deslaçar a Igualdade da Liberdade. Esta sem aquela é o que interessa aos neoliberais e outros que para aqui não são chamados. Lendo-o, parece que o cerne da questão é o “comunismo soviético”, mas não é. Sempre falei da ideologia, não do que fazem com ela. O princípio da coisa foi, na realidade, a tendencial normalização do Chega. Veja lá onde já vamos…
      E olhe, desculpe o chiste, mas hoje, sobretudo hoje, não me lembre a França… E não é por poder recordar-me Pétain, é que o jogo da Luz terminou há bocadinho e eles ganharam-nos.

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    6. E mereceram a vitória. Só lhes perdoo porque falam a língua de Voltaire...
      Boa noite e durma bem!

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