Nessa época a partir década de 1950,
o interior mais remoto do país passou a contar com considerado grande avanço da
então modernidade: pequenas salas de cinema.
Os filmes em rolos de fitas,
acondicionados em latas assemelhadas às embalagens de pizzas, chegavam nas
cidades em malotes por via férrea ou em qualquer outro meio disponível. O
interessante é que para um só filme eram usadas várias destas latas, muito
diferente de hoje, que em um pequeno Pendrive ou HD externo podem-se conter
vários, a ponto dos jovens de hoje desacreditarem destes relatos, achando que
se trata de imaginação dos mais velhos.
A projeção da fita, na rudimentar
aparelhagem que já tinha sido aposentada nas grandes cidades, era um verdadeiro
martírio; com certa frequência ela queimava um pequeno pedaço e se rompia,
parando-se momentaneamente o espetáculo, sob intenso protesto da plateia na
espera dos devidos reparos.
Nesta interrupção a luz da sala
acendia rapidamente, pegando desprevenidos os casais de apaixonados namorados,
que tinha que se recompor de seus carinhosos afagos, tão proibitivos naqueles
tempos dourados.
Nesta operação sobravam pequenos
pedaços da película, que eram direcionados ao lixo. Costumava ficar horas
garimpando neste lixo, à procura de fragmentos que contivessem uma das belas
atrizes da época. Eis que, num belo dia ensolarado, bingo! Ganhei na sorte
grande! Pesquei um pequeno quadro que continha a grande musa daqueles tempos, a
belíssima atriz do cinema mexicano de origem cubana: NINÓN SEVILLA. Ao ser
revelado, cravei no verso a seguinte dedicatória: “Orivaldo, em tu mano quien te tiene en corazon. Siempre tua, Ninón”. (Escrita
por uma amiga), logo abaixo escrevi: “Tradução: Orivaldo, em sua mão, quem te
tem no coração. Sempre sua, Ninón”.
Muitos dos ingênuos colegas de então
acreditaram piamente nesta maluquice oriunda de um jovem sonhador, pois era
muito difícil se ter uma fotografia de artista como aquela. Esta foto me acompanhou durante toda minha
juventude, causando grande inveja nos jovens amigos da minha geração.
Até hoje com idade mais avançada
ainda sonho com a formosura desta que foi, sem nunca ter sido, uma ex namorada.
Diante da realidade, me consolo: como sou muito paciente, posso esperar, quem
sabe, por outra encarnação.
Engraçado, esta sua história/lembrança lembrou-me o livro do espanhol Juan Marsé - "Essa Puta tão Distinta" - cujo principal cenário era precisamente a cabina de projeccionista onde se fazia esse "corta e cose" da película contida nas "bobines". Tudo isto numa história de "amor" do tempo franquista em que o projeccionista convivia "in loco" com a puta amada .... com interrupções para consertar a fita e deitar fora os pedacitos queimados...
ResponderEliminarDa ficção de um livro, para uma realidade do retorno a uma referência inesquecível, marcada na minha longa linha do tempo, nos moldes daquele antigo filme: “Em Algum Lugar do Passado”.
EliminarPermita-me sugerir-lhe que procure saber se Ninón ainda vive e peça-lhe uma "cita"...
ResponderEliminarCom a sua exuberância de outrora, muito corroída pela implacável ação deletéria do tempo, ela veio a óbito na cidade do México em 2015, com 92 anos (nascida em Havana em 1923).
EliminarPortando, em referência a sua sugestão: o jeito seria recorrer aos meios espirituais através de psicografia.
Como Ninón, provavelmente, também diria, "No vale la pena"; o que não tem remédio, remediado está...
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