sexta-feira, 20 de novembro de 2020

COMO ERA O CINEMA NAS PEQUENAS CIDADES DO INTERIOR DO BRASIL


 

Nessa época a partir década de 1950, o interior mais remoto do país passou a contar com considerado grande avanço da então modernidade: pequenas salas de cinema.

Os filmes em rolos de fitas, acondicionados em latas assemelhadas às embalagens de pizzas, chegavam nas cidades em malotes por via férrea ou em qualquer outro meio disponível. O interessante é que para um só filme eram usadas várias destas latas, muito diferente de hoje, que em um pequeno Pendrive ou HD externo podem-se conter vários, a ponto dos jovens de hoje desacreditarem destes relatos, achando que se trata de imaginação dos mais velhos. 

A projeção da fita, na rudimentar aparelhagem que já tinha sido aposentada nas grandes cidades, era um verdadeiro martírio; com certa frequência ela queimava um pequeno pedaço e se rompia, parando-se momentaneamente o espetáculo, sob intenso protesto da plateia na espera dos devidos reparos.

Nesta interrupção a luz da sala acendia rapidamente, pegando desprevenidos os casais de apaixonados namorados, que tinha que se recompor de seus carinhosos afagos, tão proibitivos naqueles tempos dourados.

Nesta operação sobravam pequenos pedaços da película, que eram direcionados ao lixo. Costumava ficar horas garimpando neste lixo, à procura de fragmentos que contivessem uma das belas atrizes da época. Eis que, num belo dia ensolarado, bingo! Ganhei na sorte grande! Pesquei um pequeno quadro que continha a grande musa daqueles tempos, a belíssima atriz do cinema mexicano de origem cubana: NINÓN SEVILLA. Ao ser revelado, cravei no verso a seguinte dedicatória: “Orivaldo, em tu mano quien te tiene en corazon. Siempre tua, Ninón”. (Escrita por uma amiga), logo abaixo escrevi: “Tradução: Orivaldo, em sua mão, quem te tem no coração. Sempre sua, Ninón”.

Muitos dos ingênuos colegas de então acreditaram piamente nesta maluquice oriunda de um jovem sonhador, pois era muito difícil se ter uma fotografia de artista como aquela.  Esta foto me acompanhou durante toda minha juventude, causando grande inveja nos jovens amigos da minha geração.

Até hoje com idade mais avançada ainda sonho com a formosura desta que foi, sem nunca ter sido, uma ex namorada. Diante da realidade, me consolo: como sou muito paciente, posso esperar, quem sabe, por outra encarnação.

5 comentários:

  1. Engraçado, esta sua história/lembrança lembrou-me o livro do espanhol Juan Marsé - "Essa Puta tão Distinta" - cujo principal cenário era precisamente a cabina de projeccionista onde se fazia esse "corta e cose" da película contida nas "bobines". Tudo isto numa história de "amor" do tempo franquista em que o projeccionista convivia "in loco" com a puta amada .... com interrupções para consertar a fita e deitar fora os pedacitos queimados...

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    1. Da ficção de um livro, para uma realidade do retorno a uma referência inesquecível, marcada na minha longa linha do tempo, nos moldes daquele antigo filme: “Em Algum Lugar do Passado”.

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  2. Permita-me sugerir-lhe que procure saber se Ninón ainda vive e peça-lhe uma "cita"...

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    1. Com a sua exuberância de outrora, muito corroída pela implacável ação deletéria do tempo, ela veio a óbito na cidade do México em 2015, com 92 anos (nascida em Havana em 1923).
      Portando, em referência a sua sugestão: o jeito seria recorrer aos meios espirituais através de psicografia.

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  3. Como Ninón, provavelmente, também diria, "No vale la pena"; o que não tem remédio, remediado está...

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