Viagens na minha terra
Às vezes, passo horas inteiras
Olhos fitos nestas braseiras,
Sonhando o tempo que lá vai;
E jornadeio em fantasia
Essas jornadas que eu fazia
Ao velho Douro, mais meu Pai.
Que pitoresca era a jornada!
Logo, ao subir da madrugada,
Prontos os dois para partir:
Adeus! Adeus! É curta a ausência,
Adeus! – rodava a diligência
Com campainhas a tinir!
E, dia e noite, aurora a aurora,
Por essa doida terra fora,
Cheia de Cor, de Luz, de Som,
Habituado à minha alcova
Em tudo eu via coisa nova,
Que bom era, meu Deus! que Bom!
Moinhos ao vento! Eiras! Solares!
Antepassados! Rios! Luares!
Tudo isso eu guardo, aqui ficou
A paisagem etérea e doce,
Depois do ventre que me trouxe,
A ti devo eu tudo que sou!
(...)
Ao sol, fulgura o oiro dos milhos!
Os lavradores mailos filhos
A terra estrumam, e depois
Os bois atrelam ao arado
E ouve-se além no descampado
Num ímpeto aos berros: - Eh! bois!
(...)
Que pena que faz ver os que ficam!
Pobres, humildes, não implicam,
Tiram com respeito o chapéu:
Outros, passando a nosso lado
Diziam: “Deus seja louvado!”
“Louvado seja”! dizia eu.
Transcrito por Amândio G. Martins
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