sexta-feira, 29 de abril de 2016

O 25 DE ABRIL MAIS TRISTE


Este 25 de Abril foi, para mim, muito triste. Assisti na TV durante o dia aos festejos, manifestações e entrevistas àquele povo anónimo que, interrogado o que mais recordava sobre a data, respondia invariavelmente ter sido graças à revolução dos cravas (cedência à igualdade de géneros do BE) que o próprio, algum parente chegado ou afastado tinha sido libertado da prisão. E eu cada vez mais envergonhado, deixando-me escorregar pelo sofá para esconder a vergonha de não ter um parente directo ou por afinidade que para o caso também servia naquela situação. Deste vulgar cidadão sem passado antifascista nem currículo presidiário, por muitas voltas que dei à cabeça, nada. Lembrei do avô materno ter fugido para o Brasil, mas como sou honesto era incapaz de invocar o caso, pois a fuga foi por motivos passionais. Ainda pensei quando meti sal no açucareiro a um agente da PIDE, mas para ser franco, a minha antipatia advinha por vê-lo a tratar com muita arrogância os empregados de mesa do restaurante onde jantava em Dili. Já quase a desistir, veio-me à memória o episódio passado também em Timor quando o meu chefe, capitão do exercito, foi injusto, acusando-me num caso sem razão. Deixando-o sair do local, e já a imagina-lo bem longe, insultei-o do pior chegando a acusa-lo que era por haver gente como ele, um sustentáculo do regime, que eu estava ali tão longe de casa. Pelos vistos, não se tinha afastado o suficiente, ouviu o meu desabafo, entrou e sem nada dizer colocou sobre a secretária o RDM aberto na página que previa o castigo para tais casos. Na época, fiquei satisfeito por me ter safado da "porrada", mas que hoje serviria em cheio para também poder alegar ter passado pela prisão no tempo da outra senhora. Agora só me resta arranjar um psicólogo que me tire este pesadelo e pedir que ninguém leia esta carta que levará ao desprezo a que irei ser votado, por não ter passado antifascista. Jorge Morais

 

Publicada no Jornal METRO de 29.04.2016


PS
Se os jornais soubessem o mal que causam publicando textos com déficit de literacia causando com isso que haja gentinha obrigada a deliciar-se com caca de cão, não publicavam isto. Já alertei um director para o problema  mas respondeu-me que agora há liberdade de imprensa e de nada adianta haver bufos a tentarem impedir.

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