quinta-feira, 13 de julho de 2017

Quando somos bombeiros

Até quando seremos lembrados, na angústia, sofrimento e dor. Até quando vamos viver longos períodos como coitadinhos, parentes pobres, pau para tudo aquilo que temos de resolver para louro de quem nada sente, nada faz fora desta época critica de incêndios, onde tudo leva e reduz o homem a pó, numa dor indescritível, de familiares e amigos. Não podem continuar indiferentes os governantes, os Srs. de fraque, os dirigentes sem escrúpulos, que nada percebem ou sabem sobre " vida por vida". Morreu mais um irmão que não conheci, como milhares que não conheço, mas que em qualquer parte, num simples toque ou chamamento irá lá estar. Não olhamos para trás, não vemos o perigo, deixamos de parte tudo que aprendemos, pela condição humana. Sofri estes dias por não estar lá. Sou de uma família, onde todos somos bombeiros voluntários, onde saímos mas sabemos que não podemos voltar, onde o mais novo elemento da família já sente a vontade de fazer o que esses Srs. que se passeiam, mas nada decidem adiando para governantes futuros. Até quando irá existir voluntários ? E quando deixar de existir voluntários ? As associações lutam desesperadamente pela manutenção numa liga que não existe. Despesas e mais despesas, onde os voluntários são chamados para através de serviços mal e demoradamente pagos, com montes de associados desligados, da real situação financeira das associações.
No entanto, ao 1º toque, uma grande parte responde ao chamamento, a custo zero, com despesas a seu cargo, com horas e horas dedicadas aos outros a um país, que apenas retribuem em palavras, porque alguém numa fatídica hora morre. Tanto dinheiro, tanto milhões, para onde. Maquinas e bolsos que depois vimos a saber de casos e casos de corrupção. Muitos são os bombeiros que não têm benefícios legais, profissionais, contributivos, estatais, pelas horas e horas dadas fora dos seus compromissos profissionais, que depois de calor, sujidade, fome e falta de descanso, tem de cumprir nos seus empregos com a mesma entrega e brio que qualquer outro. Foi a vida que voluntários escolheram, mas não escolheram ser esquecidos e ignorados, desrespeitados por esses Srs. que há muito deviam legislar sobre o que chamamos, situações de excepção, cidadãos de excepção. Não podemos continuar à espera do céu, para sentirmos que fomos recompensados. Não podemos ser lembrados só nesta época, o verão mata, o inverno mata, os desastres, as derrocadas tudo que estamos envolvidos podem matar, e existe todo o ano. É tempo de exigir mais. É tempo de olhar para os bombeiros, como alguém que realmente está lá, quase sempre no sofrimento. O sofrimento de alguém que por vezes é o nosso pai, mãe, filho ou irmão, a nossa capa caí, ardemos por dentro deixamos de ser super-homens, porque nunca o fomos. Somos homens e mulheres que não deixamos de ser bombeiros.
Ao nosso herói, de Castanheira, um obrigado por ser Bombeiro Voluntário .

Luís Pereira
(JN, 12/07/2017)

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