sábado, 21 de julho de 2018


Incontroláveis desvarios...


“Nas raras vezes em que a fadiga o interrompia, deixando-o bruscamente desamparado, como se lhe tivessem oferecido um espaço demasiado sem nada ter para o ocupar, verificava então, com surpresa, que à sua volta havia transformações em que não participara. Como tinha sido possível? E, além disso, pressentia que a família deixara de sofrer esse afastamento; essa verificação aumentava-lhe a insegurança, mas já era tarde para recomeçar.
 
Estava só e devia aprender a bastar-se, ou então continuar num atordoamento que só terminaria quando caísse de súbito, um cavalo chicoteado que a morte encontra ainda de olhos esgazeados da fúria de correr. Muito tarde. Tarde mesmo para reagir, voltando o rosto à enxurrada, desafiando-a, visto que essa rebelião exigia um preço que ele já não saberia suportar.”

Nota – apontamento do livro anexo.


Amândio G. Martins


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