quinta-feira, 2 de abril de 2020

A CONVIVÊNCIA NO CONFINAMENTO DA CLASSE MÉDIA



Nestes tempos bicudos, onde se é obrigado a viver confinado, a convivência harmoniosa torna-se uma realidade não muito romântica entre casais e muito prejudicada entre pais e filhos, e entre eles, principalmente se estes forem adolescentes. Os defeitos de caráter das pessoas envolvidas, são camuflados pelas penosas atividades diárias na corrida incessante, movida pelas vaidades pessoais em alcançar o sucesso a qualquer custo e pela ganância desenfreada pelo aumento de seus rendimentos, normalmente muito acima de suas necessidades.
O convívio obrigatório e monótono por um longo tempo traz o afloramento das falhas humanas que todos nós as temos, trazendo no recinto familiar conflitos que certamente terão consequências quando terminar este confinamento profilático que a nós foi imposto, por necessidade de se preservar o bem maior que é a vida.
Aqueles mais dotados de posses, costumados a viajarem, assim que suas agendas laborais permitem, principalmente para o exterior, se sentem mais frustrados pela atual situação. São aqueles enquadrados naquela conhecida expressão: “ de tanto viajarem para outros países, se sentem estrangeiros no seu próprio”.
Para os idosos a situação é um pouco diferente, a maioria deles já se acham confinados pela consequente marcha indelével do tempo. São eles via de regra mais conformados, estão se sentindo até mais populares, quando esporadicamente saem à rua e ouvem vozes bradando: “vai pra casa véio (velho)! ”.
Para um idoso, que vive só como eu, não vejo nenhuma diferença na atual com a vida corriqueira que sempre tenho vivido, a não ser, pelo choque da passagem brusca de um confinamento voluntário para um compulsório, somado a uma grande preocupação pelos conhecidos rigores da doença e com familiares.
Em suma, na convivência cotidiana exagerada é muito difícil evitar os costumeiros desencontros, mesmo para mim que não tem ninguém para divergir, mas que nos meus momentos reflexivos e meditativos já está havendo pequenas divergências, nada, porém, que se possa preocupar, entre o meu corpo e minha alma, ele tem pensado de um modo e ela, de outro. 

1 comentário:

  1. Acautele-se, professor, que velho é "coisa" que morre muito, mesmo sem vírus inopinado...

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