Nestes tempos bicudos, onde se é
obrigado a viver confinado, a convivência harmoniosa torna-se uma realidade não
muito romântica entre casais e muito prejudicada entre pais e filhos, e entre
eles, principalmente se estes forem adolescentes. Os defeitos de caráter das
pessoas envolvidas, são camuflados pelas penosas atividades diárias na corrida
incessante, movida pelas vaidades pessoais em alcançar o sucesso a qualquer
custo e pela ganância desenfreada pelo aumento de seus rendimentos, normalmente
muito acima de suas necessidades.
O convívio obrigatório e monótono por
um longo tempo traz o afloramento das falhas humanas que todos nós as temos,
trazendo no recinto familiar conflitos que certamente terão consequências
quando terminar este confinamento profilático que a nós foi imposto, por
necessidade de se preservar o bem maior que é a vida.
Aqueles mais dotados de posses,
costumados a viajarem, assim que suas agendas laborais permitem, principalmente
para o exterior, se sentem mais frustrados pela atual situação. São aqueles
enquadrados naquela conhecida expressão: “ de tanto viajarem para outros
países, se sentem estrangeiros no seu próprio”.
Para os idosos a situação é um pouco
diferente, a maioria deles já se acham confinados pela consequente marcha
indelével do tempo. São eles via de regra mais conformados, estão se sentindo
até mais populares, quando esporadicamente saem à rua e ouvem vozes bradando:
“vai pra casa véio (velho)! ”.
Para um idoso, que vive só como eu, não
vejo nenhuma diferença na atual com a vida corriqueira que sempre tenho vivido,
a não ser, pelo choque da passagem brusca de um confinamento voluntário para um
compulsório, somado a uma grande preocupação pelos conhecidos rigores da doença
e com familiares.
Em suma, na convivência cotidiana
exagerada é muito difícil evitar os costumeiros desencontros, mesmo para mim
que não tem ninguém para divergir, mas que nos meus momentos reflexivos e meditativos
já está havendo pequenas divergências, nada, porém, que se possa preocupar, entre
o meu corpo e minha alma, ele tem pensado de um modo e ela, de outro.
Acautele-se, professor, que velho é "coisa" que morre muito, mesmo sem vírus inopinado...
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