Normalidade nova/Nova normalidade...
O que nos espera quando a pandemia começar a dar sinais de
abrandar, não só não é entusiasmante como é bastante assustador, tão maus são
os sinais que se têm visto, pondo a nu diabos que se pensavam esquecidos, como
pôr pessoas a vigiarem-se umas às outras, denunciando às autoridades, como
crime, as coisas mais corriqueiras que nos habituamos a fazer livremente, sem
despertar atenções.
É verdade que, no
nosso caso, o confinamento não tem sido tão duro como é no país vizinho e, no
meu caso particular, que vivo numa aldeia, tenho sentido restrições quase nenhumas;
todavia, fui um dia destes ao hospital de Viana, a uma consulta de
oftalmologia, marcada quando ainda não se falava em “coronavírus”, e impressionou-me
ver aquele lugar, sempre movimentadíssimo, sem uma única pessoa na enorme sala
de espera do átrio principal, ficando a perceber porque não queriam que lá
fosse, se pudesse abdicar da consulta presencial.
Quanto ao “desconfinamento”, a posição dos especialistas em
saúde pública é tudo menos optimista, como ontem ouvi o espanhol Martinez Olmo
dizer que, mesmo que se descubra uma vacina, pelo que já se conhece deste vírus
nunca vai haver risco zero; e se na terra dele, a partir de hoje, as crianças já
poderão saír de casa uma hora, com um adulto para cada três, separadas dois
metros, sem poder frequentar jardins nem parques infantis, e não mais que um
quilómetro ao redor de casa, só para desentorpecer, ouvi numa TV algumas nada
entusiasmadas, revelando uma maturidade assustadora para a idade.
De facto, contrariando o que tenho ouvido aos
pedopsiquiatras, que está em perigo a sua saúde física e mental, estas crianças
revelavam uma consciencialização do que se está passar bem maior que muitos
adultos, que a polícia encontra na rua em desobediência à lei e com desculpas
esfarrapadas, como andar a "passear" um coelho, ou uma tartaruga; e entre as crianças que diziam não querer mesmo saír à rua,
comoveu-me a resposta de algumas: “Si no puedo abrazar ni besar a mis amiguitos,
no quiero salir a la calle; coronavírus aún no se acabó, pero muy pronto lo hará”!
Amândio G. Martins
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