domingo, 26 de abril de 2020


Normalidade nova/Nova normalidade...


O que nos espera quando a pandemia começar a dar sinais de abrandar, não só não é entusiasmante como é bastante assustador, tão maus são os sinais que se têm visto, pondo a nu diabos que se pensavam esquecidos, como pôr pessoas a vigiarem-se umas às outras, denunciando às autoridades, como crime, as coisas mais corriqueiras que nos habituamos a fazer livremente, sem despertar atenções.

É  verdade que, no nosso caso, o confinamento não tem sido tão duro como é no país vizinho e, no meu caso particular, que vivo numa aldeia, tenho sentido restrições quase nenhumas; todavia, fui um dia destes ao hospital de Viana, a uma consulta de oftalmologia, marcada quando ainda não se falava em “coronavírus”, e impressionou-me ver aquele lugar, sempre movimentadíssimo, sem uma única pessoa na enorme sala de espera do átrio principal, ficando a perceber porque não queriam que lá fosse, se pudesse abdicar da consulta presencial.

Quanto ao “desconfinamento”, a posição dos especialistas em saúde pública é tudo menos optimista, como ontem ouvi o espanhol Martinez Olmo dizer que, mesmo que se descubra uma vacina, pelo que já se conhece deste vírus nunca vai haver risco zero; e se na terra dele, a partir de hoje, as crianças já poderão saír de casa uma hora, com um adulto para cada três, separadas dois metros, sem poder frequentar jardins nem parques infantis, e não mais que um quilómetro ao redor de casa, só para desentorpecer, ouvi numa TV algumas nada entusiasmadas, revelando uma maturidade assustadora para a idade.

De facto, contrariando o que tenho ouvido aos pedopsiquiatras, que está em perigo a sua saúde física e mental, estas crianças revelavam uma consciencialização do que se está passar bem maior que muitos adultos, que a polícia encontra na rua em desobediência à lei e com desculpas esfarrapadas, como andar a "passear" um coelho, ou uma tartaruga; e entre as crianças que diziam não querer mesmo saír à rua, comoveu-me a resposta de algumas: “Si no puedo abrazar ni besar a mis amiguitos, no quiero salir a la calle; coronavírus aún no se acabó, pero muy pronto lo hará”!


Amândio G. Martins




Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.