terça-feira, 21 de abril de 2020


A sorte dá muito trabalho...


...É a resposta que os bem sucedidos na vida costumam dar quando lhes dizem que têm sorte, mas há nisto um grande fundo de verdade; andava a trabalhar na horta quando o meu conterrâneo Cachada veio ter comigo para lhe dar couves de plantar, que me sobram muitas no alfobre; à distância “regulamentar”, fomos falando da situação que se vive e da “sorte” que temos de ainda não haver por cá ninguém infectado mas, dizia o Cachada, há muita gente a “pirar”, sobretudo os empregados no comércio e indústria, que os do campo não lhes falta com que se entreter.

De facto, sem feiras, sem festas, sem trabalho, e ainda por cima sem futebol para descarregar o tédio, que há muita gente que, extra trabalho, não tem outro assunto de conversa que não seja a bola, até meio da semana o jogo anterior, daí para a frente o próximo, há por todo o lado uma situação “explosiva” em termos psiquiátricos, que é preciso haver quem saiba gerir, que também não há muito.

Mas voltando à “sorte”, falava-se ontem na TV  espanhola La Sexta do “exemplo” de Portugal, com menos mortos até hoje do que muitos países sofrem por dia, incluindo Espanha, embora já muito melhor; numa ligação a Enrique Oltra, seu correspondente em Lisboa, a jornalista Mamen Mendizábal perguntava-lhe como conseguem os portugueses tal “performance”, tendo ele respondido o que todos sabemos: trégua no combate político, concentração no que é mais importante, disciplina dos portugueses e também alguma  sorte.

Quanto ao futebol, a que Alberoni chama “uma metáfora da vida”, transcrevo um pouco do que diz no livro cuja foto anexo:  "Alguns defendem que o futebol não dá nada, que seria apenas um jogo de emoções, uma embriaguez fantástica, um desabafo dos instintos; mas os sociólogos e psicólogos, pelo contrário, defendem a tese de que o indivíduo tem necessidade de esquecer a sua própria identidade, de se fundir com o colectivo. No estádio todos são iguais, explodem em excessos, gritam, abraçam-se, fundem-se para formar um poderoso organismo superindividual. Depois, em casa, cada um regressa a si mesmo, à vidinha de todos os dias”.


Amândio G. Martins

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