domingo, 12 de abril de 2020

Per omnia saecula saeculorum

 
As interrogações que Frei Bento Domingues se/nos coloca, no Público de hoje, sempre farão sentido. Contudo, em plena pandemia e correlativo isolamento social, elas ganham outra acuidade que, em tempos “normais”, o comum dos mortais tende a esquecer, delas apenas se lembrando os extremistas, os poetas, os artistas, os utopistas, enfim, os “lunáticos” do costume. Vou só reproduzir três delas:  
“Porque continuais a fazer do dinheiro, de tudo o que ele representa, o vosso deus? 
Ainda não reparaste que o actual modelo de sociedade e de globalização não vos pode salvar? 
Não vos dais conta que se continuardes a ceder às tentações da dominação económica, política e religiosa, a nível local e global, não estais a construir sociedades abertas, democráticas, mas a fortalecer e a fechar as pessoas no egoísmo, o grande vírus do presente e do futuro?”
Quem sou eu para contrariar Frei Bento Domingues? As perguntas dele são, na verdade, afirmações, tanto como o remate: “Não vale a pena repetir que o ser humano não tem conserto.” Basta-nos esperar pelo afastamento da crise e, mais uma vez, lá teremos de lhe dar razão.

2 comentários:

  1. Nem sei muito bem por onde começar pois com Frei Bento pelo meio ( e o José como concordante parafraseador), é uma "luta" de "David contra Golias" ( já estou a "dar cartas" ao gigante...). Desde logo não concordo com o título do artigo ( que, curiosamente, o José não aduziu...): "A morte não pode ser a última palavra". Não pode ser... mas é! Só quem acredita na vida eterna assim não o crê, mas isso é uma questão de fé. Sei bem que o "nascer de novo" é possível, mas só simbolicamente, dentro duma (auto) crítica que traz comportamento diferente e... cá na Terra.
    Retomando a minha análise. Frei Bento é um religioso erudito mas isso não lhe empresta o direito de "fazer de perguntas, asserções" ( que o José apoia). Senão vejamos: "Ainda não reparaste ( suponho que FB queria usar o plural...) que o actual modelo de sociedade e de globalização não vos pode salvar"? A minha pergunta é: o "modelo" ou a "globalização"? Parece-me dúbio na formulação e só espero que não tivesse sido intencional. Depois, quando fala nas várias "dominações", em tom assertivo, diz que elas não constroem "sociedades abertas" quando, pelo contrário, a noção de Sociedade Aberta, tão estruturante na filosofia de Karl Popper - até deu título à sua obra mais importante - é-o precisamente porque engloba todos os pensamentos... inclusive esses que o dominicano verbera. E o dinheiro... não é, somente, o meio usado para troca de bens? A acumulação dele "à outrance" e a má distibuição é que são o que nós todos devemos tentar mudar... E o que é "salvar"? Mesmo palavra de padre, erudito mas "tendencioso"...
    Em nota de rodapé, direi que também Hans Kung tem um título apelativo - "Por uma Ética Universal" - que parece apelar ao consenso ( seja este o que for) mas, no fim... lá está Deus como "última instância" fundadora! Dentro duma filosofia liberal sou mais "ouriço que raposa" (Isaih Berlin), mas... "nem Deus nem amo" e sem negar a História, naõ sou "historicista" de todo. Resumindo: gosto de ler FB, mas tem que ser claro naquilo que diz e não tão axiomático que pareça falar mais de truísmos próprios que de simples opções... "abertas".
    P.S.- Noto com agrado que o José Rodrigues, o A. Pedro Ribeiro e Frei Bento Domingues estão muito confluentes... Saravá para os três!

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