Síndrome de Robinson Crusoé...
“Pobre Robinson Crusoé”, clamava incessantemente o papagaio, de tanto o
ouvir lamentar a sua sorte, de tal forma que, por momentos, o náufrago chegou a
pensar, ainda mal acordado, que finalmente o tinham descoberto para o ajudar;
dizia ontem a escritora catalã Almudena Grandes que há-de haver milhões de
pessoas a sofrer a síndrome de Robinson Crusoé, mas a mim parece-me mal
comparado, porque este, passados os primeiros momentos de assombro, depressa
deu início a uma actividade frenética.
De facto, não demorou a construír um abrigo, a explorar a
ilha, que começou por chamar “do desespero” mas depressa a sentiu como território
seu; descobriu que tipo de animais lá havia, caçou para comer e aprisionou
outros para reserva, recolheu de barcos encalhados na costa bens que lhe foram
preciosos, arranjou um companheiro selvagem que salvou de ser comido e lhe
ficou eternamente agradecido, enfim, nada comparado ao embrutecimento a que têm
sido submetidos os confinados de hoje por causa dessa coisa que ninguém vê mas
se faz dolorosamente sentir.
A alguns vai valendo o humor para se manterem sãos, que o ser humano não foi feito para ser obrigado a ficar preso e inactivo; a Time
transcrevia um dito espanhol antigo, que curiosamente lhe chegou por via do futebolista egipcio Mohamed Salah e diz assim:
“No hay mal que dure 100 años ni cuerpo que lo aguante”...
Amândio G. Martins
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