quinta-feira, 23 de abril de 2020


Síndrome de Robinson Crusoé...


“Pobre Robinson Crusoé”, clamava incessantemente o papagaio, de tanto o ouvir lamentar a sua sorte, de tal forma que, por momentos, o náufrago chegou a pensar, ainda mal acordado, que finalmente o tinham descoberto para o ajudar; dizia ontem a escritora catalã Almudena Grandes que há-de haver milhões de pessoas a sofrer a síndrome de Robinson Crusoé, mas a mim parece-me mal comparado, porque este, passados os primeiros momentos de assombro, depressa deu início a uma actividade frenética.

De facto, não demorou a construír um abrigo, a explorar a ilha, que começou por chamar “do desespero” mas depressa a sentiu como território seu; descobriu que tipo de animais lá havia, caçou para comer e aprisionou outros para reserva, recolheu de barcos encalhados na costa bens que lhe foram preciosos, arranjou um companheiro selvagem que salvou de ser comido e lhe ficou eternamente agradecido, enfim, nada comparado ao embrutecimento a que têm sido submetidos os confinados de hoje por causa dessa coisa que ninguém vê mas se faz dolorosamente sentir.

A alguns vai valendo o humor para se manterem sãos, que o ser humano não foi feito para ser obrigado a ficar preso e inactivo; a Time transcrevia um dito espanhol antigo, que curiosamente lhe chegou por via do  futebolista egipcio Mohamed Salah e diz assim: “No hay mal que dure 100 años ni cuerpo que lo aguante”...


Amândio G. Martins

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.