quinta-feira, 2 de abril de 2020

Ramalho Eanes como mote

Devo dizer que Ramalho Eanes não é figura que eu muito apreciasse. Não pelo fez no 25 de Novembro, pois isso apreciei, mas pela inconcebível criação dum partido político a partir da Presidência da República, funcionando como "eminência parda" e, mais ainda, tomando para si e para o partido a referência da.... ética. Para além disso, embora num plano inferior, o seu doutoramento serôdio na Universidade de Navarra, propriedade da Opus Dei, sempre me deixou muito "desconfiado". Dito isto, não posso deixar de o elogiar na postura que assumiu, ontem, na entrevista que deu à RTP, dizendo que "ofereceria o ventilador, de que pudesse necessitar, a um homem que tivesse mulher e filhos para criar". Ele que tem 85 anos, Verdadeiramente corajoso e.... éticamente importante!
Porque digo isto? O general tem um aspecto e tom frugais e espartanos que muito agradam a muita gente. Muita dessa mesma gente que se rebela com a mera hipótese de ser a idade a contar para a "escolha" de quem ventilar, no caso de não haver ventiladores para todos os que deles necessitem ao mesmo tempo. E, vindo dum homem que é paradigma cívico para essa mesma muita gente, talvez as "campaínhas soem" e moderem os "ataques" à pretensa "eutanásia etária" que pode ser uma atitude quase, ou mesmo.... nazi. Talvez os choque mas "escolher" eticamente, também doi muito a quem o faz - e só "peço" que nunca me veja nesse papel - mas, como em Espanha, na actualidade, venha o primeiro que "atire a pedra"...
Num tempo em que, para além da triste tragédia, ainda há gente que tem tempo para catarses, esconjuros e leviandades "políticas" ou "culturais" que roçam a leviandade total, foi bom de ver e ouvir o general dizer o que disse, com todas as letras. Aprovei-o e felicito-o.

Feranando Cardoso Rodrigues

4 comentários:

  1. Ao fim de 85 anos de uma vida cheia (parece-me!), é natural que um balanço apresente aspectos negativos. No caso, não tenho condições objectivas para avaliar o “erro” do PRD, e nunca poderemos esquecer as circunstâncias da época, para além de que as análises que possamos fazer hoje facilmente caírem no “prognóstico depois do jogo”. Já o doutoramento, parece-me indiscutivelmente “problemático” (para não dizer mais).
    Da entrevista, relevo o apelo à espiritualidade e elevação ética e moral do Homem, sempre lembrando a sua fragilidade e o esquecimento do significado do que é ser-se gregário, com permanente exaltação dos valores do altruísmo e da solidariedade. Gostei especialmente que tivesse desmistificado as nacionalizações tão estigmatizadas.
    Estranhei um pouco as alusões aos avisos que a ONU e o Banco Mundial fizeram, em Setembro passado, da possível emergência de uma crise pandémica com contornos muito semelhantes aos que estamos a defrontar, já com referências à possibilidade de o vírus causador poder ser de origem da Natureza ou de uma possível fuga de um qualquer laboratório de guerra biológica. Fiquei um tudo-nada perplexo.
    Quanto às dramáticas escolhas que os médicos (e não só) têm de fazer, avalio a dor que acarretam. No entanto, é bom lembrar que, embora na actual conjuntura ele seja exponencialmente agravado, o pungente dilema já existe em muitas outras situações, até em tempos de normalidade.
    Relativamente ao seu último parágrafo, lamento muito, caro Fernando, mas não partilho em nada a sua posição. Desde que não sejam ofensivas, as posições políticas, culturais ou intelectuais, quaisquer que elas sejam, têm todo o direito a gozar de livre expressão. Quando muito, poderemos (deveremos?) contraditá-las.

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  2. Boa noite José. Somente duas notas. A primeira para discordar de si na hierarquização de gravidade entre o novo partido e a ligação à Opus Dei, pois considero grave o primeiro garvíssimo sob o ponto de vista político/democrático, enquanto a segunda "é lá com ele", embora me fizesse desconfiar dele. Quanto ao meu último parágrafo... eu naõ os quero censurados! Somente os verbero e até os acho pateticamente "desfasados" ou mal intencionados e... disse-o acima!

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  3. Um idoso padre italiano infectado, a quem os paroquianos ofereceram um ventilador, prescindiu dele para que pudesse servir a alguém mais jovem; e morreu popuco depois...

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    1. Belíssima atitude. E acrescento, como ninguém pode ser ventilado em casa (por razões técnicas de supervisão científica ), só faltaria que uma pessoa levasse o "seu" ventilador "debaixo do braço" para os cuidados intensivos hospitalares para ser utilizado nela (!!!) por quem o sabe fazer....

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