É voz do povo que Portugal,
durante a ditadura, era o país dos 3 efes; Fátima, Futebol e Fado. Na verdade, esses
fenómenos nas áreas da fé, do desporto e da música, serviam de bordão às
dificuldades da vida. Mesmo nestas realidades vividas na sociedade, havia, e
há, escalas de representação. Nossa senhora de Fátima sobrepõe-se a todas as
outras santas e não é por acaso que os papas a reconhecem como a padroeira de
Portugal e já visitaram o seu chão sagrado. No futebol há clubes que têm
adeptos aos milhões e os de influência local, que funcionam como bordão de
muita gente para as caminhadas da vida. Todos estes componentes faziam
adormecer os efeitos das dificuldades diárias, semeavam a esperança num milagre
de dias melhores ou de grandes vitórias do clube do coração. O fado, cantado de
xaile ou cachecol, segundo o sexo dos intérpretes, mais restrito às tabernas,
casas típicas de fado da área alfacinha, era-nos imposto como a canção
nacional. Também o fado de Coimbra, mais localizado na área académica,
apresentado de capa e batina, tinha apenas implantação nas elites
universitárias. Após a revolução de Abril, estes efes, a princípio, foram
glosados popularmente de formas ridicularizantes, dizendo-se que haviam sido os
suportes do fascismo. Com o decorrer dos anos foram, paulatinamente,
recuperados e nobrecidos, sendo elevados de tal forma a valores pátrios, que
dois dos seus mais representativos intérpretes tiveram honras de panteão nacional,
a fadista Amália Rodrigues e o futebolista Eusébio da Silva Ferreira.
Numa investida internacional,
tendo como embaixadores Carlos do Carmo e Marisa, gastámos centenas de milhares
de euros para conseguir inscrever o fado como património imaterial da
humanidade.
O futebol também foi enriquecido
com actores de renome mundial. Do lote de jogadores e treinadores famosos,
destaca-se o nome de Cristiano Ronaldo, um dos melhores jogadores do mundo de
todos os tempos, que já tem estátua e museu na sua terra natal.
Quanto a Fátima, consagrada como
padroeira de Portugal, só após a implantação do regime democrático teve a honra
de ser abençoada com visitas papais. João Paulo II, esteve em Fátima por 3
vezes (1982,1991,200), O Papa Bento VXI, esteve no santuário em 2010 e o actual
Papa Francisco, já tem anunciada uma visita em 2017, no centenário das
aparições. A colossal Basílica da Santíssima Trindade foi inaugurada em 2007.
Como podemos constatar, os tais
valores que, segundo alguma tradição popular, foram o suporte do dito fascismo,
medraram imenso dentro do sistema democrático. E no topo de tudo isto, instalou-se
entre nós mais um F (fome), que perpassa por inúmeras famílias, atingindo
especialmente as crianças. E porque os valores humanitários não podem ser
esquecidos, recuperámos as respostas que oficialmente e pela primeira vez haviam
sido dadas com a Sopa do Sidónio (1918), durante a 1.ª Grande Guerra (1914-1918).
Associações privadas, misericórdias, escolas e grupos caritativos lutam contra
a miséria, instalada numa parte considerável da nossa população, fornecendo
refeições ou produtos, para que sejam preparadas nas residências das famílias
necessitadas. Agora somos o país dos 4 efes.
27.10.2015 Joaquim Carreira
Tapadinhas - Montijo
Peço desculpa se estiver errado, mas segundo penso, Fátima não é a nossa padroeira e no ano de 1967, cumpria eu serviço militar em Leiria quando recebemos a visita Papal de Paulo VI.
ResponderEliminarAmigo Jorge Morais - Na referência a visitas papais só encontrei as que referi e quanto à padroeira de Portugal é um pormenor, naturalmente importante na análise teológica, mas que nada adianta no conteúdo do artigo que refere um problema que está para resolver na vida nacional. Obrigado por ter lido o artigo e pelas rectificações.
ResponderEliminarSenhor Joaquim Tapadinhas, peço-lhe desculpa por ter-me referido apenas ao que estava errado, mas bem vistas as coisas, foi um sinal que concordava com aquilo quem quis dizer pois é a triste realidade. Poderíamos até acrescentar mais um F “Falido” e assim aproximar-se da cidade da Guarda com os seus 5 + 1 F. Aproveito para esclarecer que também estive até muito tarde convencido que a nossa padroeira era N. S. de Fátima e foi numa visita a Vila Viçosa que fiquei a saber quem era N. S. da Conceição. Sobre a visita papal, não me posso esquecer que foi graças à sua visita em 1967 que “lerpei” um fim-de-semana sem vir a casa.
ResponderEliminarRenovo o meu pedido de desculpas pela minha indelicadeza.
Amigo Jorge Morais- Agradecendo as suas palavras, quero salientar que não me senti ofendido, e que elas que serviram para aumentar os meus conhecimentos,rectificando informações incorrectas. Um abraço lusitano.
ResponderEliminarCom padroeira ou sem ela, não resta a mais pequena das dúvidas que "F" não nos faltam, até o estamos!
ResponderEliminarCom mais 'F', menos 'F', a nossa viagem democrática vive um lamentável impasse. Serão precisos mais 40 anos para tão grande passo de caracol?
ResponderEliminarPublicado hoje (31.10.2015) no Expresso, com muitos cortes, que de certa forma não explica correctamente a mensagem. De qualquer modo foi simpático o jornal ter acolhido este escrito.
ResponderEliminarA minha mensagem está a ser compreendida. Hoje, o jornal Público publicou, na íntegra, este meu artigo que tem uma correcção que me foi sugerida, e bem, pelo amigo Jorge Morais.
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