Compatriotas,
Em Janeiro
de 1988, por iniciativa de O Comércio do Porto, levou este jornal diário a
efeito um certame intitulado ‘Portugal e os Descobrimentos’, em que os leitores
poderiam dar o seu contributo, através da rúbrica ‘Rota dos Leitores’.
Contribuindo
com muitos trabalhos, quero convosco compartilhar uma pequena parte dos mesmos
e que foram publicados pelo citado jornal nortenho.
Assim,
transcrevo-vos parte do que de meu nele foi publicado em 1/3/1988:
Roteiro da
Ímpar Odisseia
Começando
pelas Canárias
A Ceuta
fomos à conquista,
Este foi só
o começo
Da obra que
já se avista.
Aportámos em
Porto Santo
P’ra povoar
a Madeira,
Mas não
ficou só aqui
A nossa
grande canseira.
Reconhecemos
a costa africana
Desde o
Norte ao Cabo Não,
Até transpor
o Bojador
Limite do
mundo d’então.
Vamos à
Angra dos Ruivos
Indo à Pedra
Galé,
Navegando ao
Cabo Branco
Com rija
gente – não ralé.
Nuno Tristão
Arguim avista
E Garças, na
Mauritânia,
Descobre o
Senegal rio
Para a nossa
Lusitânia.
Desenvolvem-se
tratos comerciais
Em viagens
d’exploração,
Deixam-se
para depois
Rotas novas
d’emoção.
Cadamosto de
Veneza vem
Indo aos
rios da Guiné,
Onde Diogo
Gomes explorações faz
Arrostando-as
com elevada fé.
Morre o
Infante Navegador
O Ínclito
abençoado
E Pedro de
Sintra chega
Ao Cabo
Mensurado.
Santiago,
Fogo e Maio,
Boavista e o
Sal
Foram
descobertas primeiro
Seguindo-se
descoberta igual.
São Nicolau
e Santa Luzia,
Santo Antão
e São Vicente
Completaram
co’a Brava
O grupo do
ocidente.
Soeiro da
Costa atinge
O Cabo das
Três Pontas,
Mas o João
de Santarém
Vai fazendo
contas.
E com Pero
Escobar
Descobrem
Ano Bom,
São Tomé e
Príncipe a bisar
Em desempenho tão
bom.
D’Europa foram estes os primeiros
O Equador dobrar,
Mas tal feito originou
Sacrifícios sem par.
Camarões e Ilha Formosa
De Fernão Pó foram,
Mas a odisseia não parou
A outras terras rumaram.
Lopo Gonçalves e Rui Sequeira
Vão de seu cabo ao Gabão,
Atingem Santa Catarina
Mesmo ali ao pé da mão.
João Vaz Corte-Real
Viaja ao Atlântico Norte,
Em terras da Gronelândia
P’ra nosso bem, nossa sorte.
Alcáçovas foi o tratado
Que nos reservou o direito
De marear mais além
E nos deu grande proveito.
Diogo de Azambuja constrói
A fortaleza que foi
S. Jorge da Mina o nome
“Elmina Bay” dizer-se ‘sói’
Eis que Diogo Cão
Do Cabo Catarina além vai,
À Baía do Molembo chega
E depois de lá sai.
Descobre o rio Congo
E d’Angola a sua costa,
Até ao Cabo do Lobo
A sua almejada aposta.
Segue-se o Cabo Padrão
A ponta dos Farilhões,
Sobre o Zaire até Ielala,
Novas terras, sonhos e visões.
Agora é Bartolomeu Dias
Das Tormentas Esperança fez,
Unindo o Atlântico ao Índico
Feito ímpar desta vez.
Pero da Covilhã visita
Sofala, Cananor e Goa,
Passando por Calcutá
Logo na Etiópia está.
Colombo vai às Antilhas,
Tordesilhas é tratado,
D. João II deixa este mundo
Mais amplo, mais dilatado.
Às terras da Gronelândia
Não vai um navegador,
Vão o Pedro Barcelos e
O João Fernandes Lavrador.
Vasco da Gama chega
À longínqua terra Natal,
Em viagem tão longa
Mas não menos triunfal.
Segunda expedição à Índia
Com Pedro Álvares Cabral,
Lá não chega, ao Brasil vai
P’ra gloria deste nosso Portugal.
Muitas expedições se fizeram
À estranha Índia apetecida,
Mais d’uma dezena foram
E muita gente referida.
Fernão de Magalhães
Também aqui faltava,
Passeou pelo Pacífico
Onde o vento escasseava.
Desde o rio São Lourenço
P’la Nova Escócia passando,
Fomos até à Califórnia
Sem o périplo terminando.
Chegámos além do Japão,
Novas Hébridas, Tabiti,
Austrália, Nova Guiné,
Tudo tão longe daqui.
Que gente foi esta – ó Júpiter,
Qu’enfrentou o Neptuno?
Obra fizeram com cascas de noz,
Fomos todos, todos nós.
Onde está esta gente?
Mas que gente é esta que partiu
“Por mares nunca dantes navegados”,
O Cabo Bojador surgindo viu,
Outros lugares nunca dantes avistados.
Venceu lendas, mitos e medos,
Superstições, doenças e querelas,
Ultrapassou escolhos e penedos,
Sofreu, vencendo procelas.
Seguiram-se terras ignotas,
Feitos tais, quase imortais,
Para espanto dos demais.
Hoje parecemos janotas
Comemorando feitos de mortais,
Que nunca tal farão jamais.
José Amaral
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