domingo, 18 de outubro de 2015

OS PROBLEMAS DA MINHA FILHA COM A MATEMÁTICA




Se pudesse pagar uma escola privada, a minha filha teria expectativas elevadas para um futuro mais promissor na sua vida adulta. Se pudesse, mas não posso, e não deveria ter de poder, teria como garantidos os seus estudos.

 O meu compromisso pessoal com a democracia e a União Europeia, sufragado por mim em voto, supunha eu que seriam as garantias de ela poder estudar matemática no 11º ano – e as outras disciplinas do currículo -, numa escola pública, fazer o seu exame já com a matéria toda dada, e continuar a consolidar a sua preparação para esse futuro que ela ambiciona.

As aulas começaram há trinta dias e não teve uma única aula de matemática – zero -, não sabe quando vai ter, a directora de turma também não, a direcção da escola sabe um pouco mais mas não diz nada, nem resolve.

Se fossemos de ser piegas e queixosos, atribuíamos a culpa ao sistema (um abstracto que dá jeito enunciar nestas situações dúbias); ao destino (a lei irrevogável que tudo determina sem direito a escolha e opção pessoal), ou ao ministro da educação.

O sistema e o destino estão para além do nosso entendimento e portanto não os podemos acusar. O ministro da educação, não temos, e se tivéssemos seria seguramente de fraca qualidade e mesmo que o confrontássemos ele nada diria e muito menos se demitiria.

Por este andar, a minha filha não vai ter um futuro na Goldman Sachs, o que seria a minha tranquilidade na velhice e a sua realização geracional.

Por este este andar não vamos ter tão cedo ministro da educação, nem nenhum dos outros, mas que importância tem isso, comparado com o escândalo que se está a viver no futebol português e na novela mais rasteira protagonizada hoje, no tempo real, pelos políticos deste país.

Afinal que importância tem o que a minha filha quer ou deixa de querer: tivesse sido eu um pai decente, ganharia muito dinheiro, e ela – com matemática ou sem ela – iria trabalhar um dia no Goldman Sachs.


2 comentários:

  1. Parabéns pela forma fina como aborda os problemas. Uma vez, a um velho sabido, ouvi uma análise engraçada sobre o conhecimento matemático. Dizia o velhote: - A matemática, interessa muito pouco e o que é preciso é ter saúde. Se tivermos dinheiro, pagamos a quem faça as contas e, se não o tivermos, não é preciso fazer contas. Um abraço lusitano.

    ResponderEliminar
  2. Também, até existem máquinas que fazem as contas! E os outros que paguem a crise.

    ResponderEliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.