Se pudesse pagar uma escola privada, a minha filha teria expectativas
elevadas para um futuro mais promissor na sua vida adulta. Se pudesse, mas não
posso, e não deveria ter de poder, teria como garantidos os seus estudos.
O meu compromisso pessoal
com a democracia e a União Europeia, sufragado por mim em voto, supunha eu que
seriam as garantias de ela poder estudar matemática no 11º ano – e as outras
disciplinas do currículo -, numa escola pública, fazer o seu exame já com a
matéria toda dada, e continuar a consolidar a sua preparação para esse futuro
que ela ambiciona.
As aulas começaram há trinta dias e não teve uma única aula de
matemática – zero -, não sabe quando vai ter, a directora de turma também não, a
direcção da escola sabe um pouco mais mas não diz nada, nem resolve.
Se fossemos de ser piegas e queixosos, atribuíamos a culpa ao
sistema (um abstracto que dá jeito enunciar nestas situações dúbias); ao
destino (a lei irrevogável que tudo determina sem direito a escolha e opção
pessoal), ou ao ministro da educação.
O sistema e o destino estão para além do nosso entendimento e
portanto não os podemos acusar. O ministro da educação, não temos, e se
tivéssemos seria seguramente de fraca qualidade e mesmo que o confrontássemos
ele nada diria e muito menos se demitiria.
Por este andar, a minha filha não vai ter um futuro na Goldman
Sachs, o que seria a minha tranquilidade na velhice e a sua realização
geracional.
Por este este andar não vamos ter tão cedo ministro da educação,
nem nenhum dos outros, mas que importância tem isso, comparado com o escândalo
que se está a viver no futebol português e na novela mais rasteira
protagonizada hoje, no tempo real, pelos políticos deste país.
Afinal que importância tem o que a minha filha quer ou deixa de
querer: tivesse sido eu um pai decente, ganharia muito dinheiro, e ela – com
matemática ou sem ela – iria trabalhar um dia no Goldman Sachs.
Parabéns pela forma fina como aborda os problemas. Uma vez, a um velho sabido, ouvi uma análise engraçada sobre o conhecimento matemático. Dizia o velhote: - A matemática, interessa muito pouco e o que é preciso é ter saúde. Se tivermos dinheiro, pagamos a quem faça as contas e, se não o tivermos, não é preciso fazer contas. Um abraço lusitano.
ResponderEliminarTambém, até existem máquinas que fazem as contas! E os outros que paguem a crise.
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