Caso este povaréu, que nem mesmo gazeado com barricas de Memofante
vai lá, soubesse fazer as contas, teria a memória de que o vencedor com maioria
absoluta de votos foi a abstenção.
Se o nosso sistema vivesse uma democracia madura e responsável,
os lugares correspondentes à abstenção, seriam ocupados, vazios, na Assembleia
da República, para que todos os dias, víssemos essa imagem triste,
envergonhada, de um país que nem sabe nem quer eleger pessoas para o governar.
No balanço das últimas eleições, todos os partidos foram
minoritários, e todos juntos, não representam a vontade da maioria dos
eleitores.
Num caso destes a Constituição podia conter a solução do
problema: a obrigatoriedade de constituição de um governo de consenso nacional
com membros de todos os partidos que elegeram deputados e também cidadãos
independentes de reconhecido valor. Um governo com estas características
manter-se-ia em funções até que os problemas estruturais do país fossem
resolvidos. Isto claro está, com um horizonte temporal previamente marcado,
para não se perpetuar esta solução de recurso, que podia vir a originar uma
oligarquia.
Para que esta solução fosse viável, seria necessário que o
presidente da república fosse um cidadão isento, apartidário, oriundo da “sociedade
civil” não arregimentada a seitas, que pusesse acima de tudo o superior
interesse dos cidadãos, e que só assim teria a força e lucidez suficientes para
mandar nomear e promover um executivo de “salvação” estável.
Para termos um presidente com estas características, seria
necessário que as regras fossem alteradas: os candidatos a este lugar no Estado
deveriam ser indivíduos identificados, quer pelo exemplo da sua vida em sociedade,
pelos contributos pessoais dados à cidadania, por se terem destacado como
exemplo numa qualquer área profissional, e por fim, pela sua cultura vasta e
humanista.
Não seria permitido que os candidatos saíssem das estruturas
partidárias, numa espécie de oferta de cargo-reforma, mas os partidos poderiam
propor cidadãos que reunissem esses requisitos. As suas campanhas não teriam as
máquinas dos partidos por trás, apresentar-se-iam todos com as mesmas condições
e meios, para haver justiça e equidade, a que o povo pudesse escolher sem a poluição
das grandes produções que se montam à volta dos elegidos pelos partidos.
Não parece que esta ideia seja utópica e irrealizável, só o é
porque os poderes não querem, e os auxiliares de memória não actuam
convenientemente nas pessoas.
Se conseguíssemos um sistema assim, não teríamos de viver reféns
de um presidente, que é o presidente de um grupo muito reduzido de pessoas, e
que bane num discurso de Estado, mais de um milhão de cidadãos do seu país, que
só porque pensam diferente, não têm o direito – apesar de terem votado – de participar
activamente na vida politica do seu país.
Isto vai ser o caos, mas a culpa é nossa, porque deixamos, e até
parece que gostamos do sabor amargo do masoquismo, esta autoflagelação que doí
mas dá prazer.
De um dia para o outro todos se esqueceram das malfeitorias dos
que governaram nos últimos quatro anos, dos que tinham governado antes e
fizeram as asneiras que se viu e dos que nunca governaram, andaram sempre
desavindos e agora já conseguem falar uns com os outros.
Seja qual for o desfecho deste show da vida real, vai ser mau, vai adiar ainda mais o rumo certo
de Portugal, esse sim a verdadeira utopia.
O Luís é um sonhador e isso não nada de mal. Em nenhuma parte do mundo, e na luta política pelo poder, existe essa estirpe de boa gente. A minha experiência partidária, que foi alguma, esclareceu-me do funcionamento partidário, que criou uma situação de dependência dos mais diversos interesses económicos a quem serve. A realidade diz que só um lastro de influência partidária pode levar ao poder quem quer que seja. Logo, só através de compromissos, nem sempre muito claros, se atingem os altos lugares políticos. Como se perdeu a vergonha e esta não tem cotação na esfera política, pouca gente séria e competente pode desempenhar lugares de relevo nas cúpulas sociais. Contudo, é bom sonhar, mas é duro quando se acorda e se está na realidade. Um abraço lusitano.
ResponderEliminarSonhador é certo, mas depois de viver mais de cinquenta anos numa ditadura e depois numa "democracia", continuo a acordar todos os dias na realidade da estagnação da vontade de mudar e da entropia do "sistema". Se não pensarmos outras vias, fica a sensação incómoda de não se terem arriscado outras ideias, e uma coisa tenho por certa: até se fazer a experiência nunca se terá por certo que funcione ou não.
ResponderEliminarUm abraço.