O baile parecia não ter fim, até que o telefone tocou. Do lado de lá da
linha vinha o recado de que estava a fazer-se tarde repor a ordem natural das
coisas. E as coisas eram nem mais nem menos meter nos eixos o senhor Costa que
estava a ter um protagonismo que extravasava os resultados obtidos na eleição
para o comando da coisa pública. Mal o triiim soou, Coelho apressou-se a
levantar o auscultador e ouviu com atenção o que de Belém lhe recomendava para
se impor e o que havia de dizer. A voz com sotaque algarvio, muito funda, quase
roufenha foi no entanto perceptível. Pedro Coelho todo-sim-chefe-é-para-já,
interiorizou, consentiu, e como bom aluno e bem comportado prometeu reunir os media
e tornar tudo mais claro. O senhor Costa não podia andar a fazer de conta que
era o vencedor da dança de salão e falar com os bolsos cheios de exigências e
ameaças. Pedro de facto tinha-se deixado ultrapassar, e agora queria recuperar
o pé e a cabeça que adormecera no impasse criado pelos resultados de tal
eleição, e que o trazia baralhado. Com algum nervosismo, lá reagiu frente aos
microfones àquilo que agora lhe parecia uma chantagem e que punha em causa a
verdade e o seu lugar sobretudo à frente de todos os destinos ambicionados e
traçados embora sem um programa conhecido e claro mas que se adivinha pleno de malfeitorias.
O tempo escolhido não apagou o ridículo que se lhe colou por não ter percebido
antes que estava a ser repasto do líder perdedor, mas mesmo assim animou-se e
falou com ar de zangado e até acabou por deixar um ultimato. Farto das duas
vezes que se reuniu com o senhor Costa sem qualquer avanço para os consensos
que Belém reclama, disse que não queria bailar mais ao som da música que lhe
andava a dar o dançarino do Largo do Rato, e que o maestro e inquilino a prazo
no palácio de Belém por telefone na calada da noite, que é quando estes recados
são dados, também queria suspender pois também o andavam a pôr nervoso, o que
se reflecte no rosto tenso, carregado, que apresenta. Perante estas faltas de
vontade de encontrar a solução tão desejada mas às avessas dentro do desespero,
o país ao que tudo indica, vai continuar à espera sentado e de mão estendida. À
falta de contibutos para formar uma estabilidade governativa, o país e o
mexilhão vão seguir para um prolongamento, tipo, "os cavalos também se
abatem", até à nota imprevisível ou um novo triiim, que ponha termo a
tanta agonia. "E ponto final"!
"Foi fácil tirar o homem de Boliqueime, mas nunca conseguiram tirar Boliqueime do homem"... Por mim, "boliquei-me há muito para a triste figura!
ResponderEliminarJá não é com a 'pedra no sapato', mas com o 'Himalaias' às costas.
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