Portugal, há uns anos a esta
parte, vive de superficialidades e não aprofunda as reais situações em que está
mergulhado. Os sem-abrigo que, durante a noite, polvilham algumas das artérias,
são referidos de, quando em vez, de passagem, de forma descuidada, sem que no
fundo se pense nestes cidadãos como pessoas. Os desempregados entram nas
estatísticas, não como pessoas, mas como números, tal como sucede com os
milhões de famílias que vivem abaixo do limiar da pobreza, ou das crianças, que
têm como única ou principal refeição, a que lhes dão nas escolas. A dívida
pública, que cresce de hora a hora, por falta de produção de riqueza, é um
PROBLEMA FUNDAMENTAL que ainda não foi tido na conta que merece. A esta quase
tragédia, que os responsáveis não querem ou são incapazes de aprofundar,
juntam-se as dificuldades financeiras das empresas e dos bancos, que se
movimentam numa plataforma de endividamento difícil de se equilibrar. Um
esquema de desumanidade, capitaneado pelo Poder Central, estende-se no país de
lés-a-lés. Naturalmente que há excepções, mas essas não fazem a regra. Na
verdade, no actual quadro político do poder, as pessoas não contam.
As eleições que acabam de se
efectuar apresentam um resultado de difícil leitura, até porque podem ter diversas.
A abstenção, com 43,1%, é a percentagem mais elevada desde 1975, valor que os
políticos e os comentadores, por interesses ou compromissos, não têm dado o
devido realce. Depois, é preciso atentar nos votos nulos (1,61) e os brancos (2,09),
que são o 5.º e 6.º grupo com mais votação, dado que, até mesmo o PAN, que tem
um deputado na Assembleia, teve apenas 1,39.
Dos votantes, que foram apenas
56,9% dos inscritos, e desses, 73,17% não deram apoio à Coligação PàF, dado que
esta só obteve 36,83% dos votos válidos. Assim, apesar de ser a formação
política mais votada, tem como opositores o PS, o BE e a CDU, que, no conjunto
somam 50,87%, o que lhe vem criar uma situação de inferioridade aritmética.
Um acordo entre a Coligação PàF e
o PS, daria alguma estabilidade à governação, mas, tal só será possível, se
esta imergir, dando vara larga às exigências socialistas. De contrário, a
esquerda, comandada pelo PS, terá condições para aprovar o seu orçamento na
Assembleia da República, dado o apoio expresso pela CDU e BE, que tudo farão
para que não haja um governo de direita.
Sabemos que a Comissão Europeia,
que trata os países em dificuldade com enorme sobranceria, não ficaria feliz
com um governo pouco subalternizado às suas directrizes, mesmo quando as suas
pretensões sejam reivindicações justas. A União Europeia ou respeita a
democracia, como é sua obrigação, ou age ditatorialmente quando os resultados
do voto popular não lhe interessa, impondo a alguns países um colete-de-forças
a seu jeito, usando a democracia apenas como fachada.
Entretanto, no país, as
dificuldades vão-se acumulando, e não se vê medidas para inverter o caminho da
destruição da economia, tais como acabar com algumas aberrantes burocracias.
10.10.2015
Joaquim Carreira Tapadinhas - Montijo
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