segunda-feira, 26 de outubro de 2015

DO ANEDOTÁRIO

                                        REFORMAS ESTRUTURAIS…

Somos um povo que goza da fama de ter jeito para anedotas, nem dando conta que, muitas vezes, é ele próprio objecto de anedota rasteira, imbecil e imbecilizante, como no caso dos brasileiros, cujo objecto é achincalhar os portugueses; ou sem a mínima base de verosimilhança, como aquele sujeito que adorava contar que Bocage, quando se cruzava com Cesário Verde, lhe trocava sistemáticamente as “cores”, chamando-lhe Cesário amarelo,vermelho, azul, mas nunca Verde, até que este poeta lhe chamou troca-tintas.
Não sendo contemporâneos, estes poetas nunca se poderiam ter cruzado, mas o pobre “contador” nem desconfiava… Durante dezenas de anos convivi com alentejanos, em contexto de trabalho, e diverti-me sempre imenso com eles, mais do que com os da minha região. Eram impagáveis nas anedotas, em especial aquelas sobre eles próprios, e onde estivesse um, havia logo um grupo de outras regiões - nos vários seminários e reuniões diversas com pessoal de todo o país - que se formava para se regalar a ouvi-lo. Num dos laboratórios da empresa havia um que tinha sobre a mesa de trabalho um boneco inclinado para a frente, com um “sombrero” sobre os olhos, dormitando, e a legenda: “não perturbe, alentejano a laborar”…
As palavras são como as cerejas, e não era das anedotas “saudáveis” que eu queria falar, mas daquela outra velha, de barbas até aos pés, mas sempre em moda, e que se tornou famosa com o nome de “reformas estruturais”.
Há dezenas de anos que entra governo e sai governo e um tema incontornável são as malfadadas reformas, que são indispensáveis para o desenvolvimento do país, afirmam os génios da Direita, que há muito deveriam ter sido feitas, mas nunca as fazem, se calhar para poder continuar a usá-las como tema sonante!...
Neste Governo de má memória, em estertor, foi há anos cometida ao inenarrável Portas a tarefa de elaborar um documento para a “grande reforma do Estado”, mas o que desse documento até hoje se soube é mesmo uma coisa à Portas, já que a única reforma em que realmente foram exímios foi a mandar para casa pessoas competentes para abrir lugar aos seus afilhados, como ainda agora referem as notícias, enchendo em fim de mandato os serviços públicos de parasitóides da sua simpatia, e no assalto cada vez mais desbragado ao bolso dos mesmos de sempre. A propaganda de campanha, prometendo devolver uma pequena parte dos “milhões” roubados, parece revelar-se agora o que sempre foi: mais um embuste daqueles que sempre foram mestres nessa tática
Que ainda haja quem queira esta gente que, em todo este tempo, só fez mal às pessoas, sem qualquer proveito  para o país, já que os problemas de dívida elevada, de fraco crescimento, de desemprego não pararam de agravar-se - e prometiam continuar a “obra”-  eis o que me parece um insondável mistério.

                                            Amândio G. Martins



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