REFORMAS
ESTRUTURAIS…
Somos um povo
que goza da fama de ter jeito para anedotas, nem dando conta que, muitas vezes,
é ele próprio objecto de anedota rasteira, imbecil e imbecilizante, como no
caso dos brasileiros, cujo objecto é achincalhar os portugueses; ou sem a
mínima base de verosimilhança, como aquele sujeito que adorava contar que
Bocage, quando se cruzava com Cesário Verde, lhe trocava sistemáticamente as
“cores”, chamando-lhe Cesário amarelo,vermelho, azul, mas nunca Verde, até que
este poeta lhe chamou troca-tintas.
Não sendo
contemporâneos, estes poetas nunca se poderiam ter cruzado, mas o pobre
“contador” nem desconfiava… Durante dezenas de anos convivi com alentejanos, em
contexto de trabalho, e diverti-me sempre imenso com eles, mais do que com os
da minha região. Eram impagáveis nas anedotas, em especial aquelas sobre eles
próprios, e onde estivesse um, havia logo um grupo de outras regiões - nos
vários seminários e reuniões diversas com pessoal de todo o país - que se formava
para se regalar a ouvi-lo. Num dos laboratórios da empresa havia um que tinha
sobre a mesa de trabalho um boneco inclinado para a frente, com um “sombrero”
sobre os olhos, dormitando, e a legenda: “não perturbe, alentejano a laborar”…
As palavras
são como as cerejas, e não era das anedotas “saudáveis” que eu queria falar,
mas daquela outra velha, de barbas até aos pés, mas sempre em moda, e que se
tornou famosa com o nome de “reformas estruturais”.
Há dezenas de
anos que entra governo e sai governo e um tema incontornável são as malfadadas
reformas, que são indispensáveis para o desenvolvimento do país, afirmam os
génios da Direita, que há muito deveriam ter sido feitas, mas nunca as fazem,
se calhar para poder continuar a usá-las como tema sonante!...
Neste Governo
de má memória, em estertor, foi há anos cometida ao inenarrável Portas a tarefa
de elaborar um documento para a “grande reforma do Estado”, mas o que desse
documento até hoje se soube é mesmo uma coisa à Portas, já que a única reforma
em que realmente foram exímios foi a mandar para casa pessoas competentes para
abrir lugar aos seus afilhados, como ainda agora referem as notícias, enchendo
em fim de mandato os serviços públicos de parasitóides da sua simpatia, e no
assalto cada vez mais desbragado ao bolso dos mesmos de sempre. A propaganda de
campanha, prometendo devolver uma pequena parte dos “milhões” roubados, parece
revelar-se agora o que sempre foi: mais um embuste daqueles que sempre foram
mestres nessa tática
Que ainda
haja quem queira esta gente que, em todo este tempo, só fez mal às pessoas, sem
qualquer proveito para o país, já que os
problemas de dívida elevada, de fraco crescimento, de desemprego não pararam de
agravar-se - e prometiam continuar a “obra”-
eis o que me parece um insondável mistério.
Amândio G. Martins
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