DESCARAMENTOS QUE DÃO MUITO
JEITO…
De tudo
quanto se pode observar, ao longo da vida, ocorre-me relatar um daqueles casos
de lavradores ricos que conheci bem, para quem era importante preservar a casa
de lavoura da família nos mesmos termos em que a recebera dos antepassados, e
que consistia em proporcionar ao filho mais velho ser detentor da maior fatia dos bens, cabendo aos restantes
apenas umas migalhas; era-lhes
permitido, todavia, se para tal tivessem cabeça e o pai dinheiro suficiente,
fazer um curso que lhes garantisse futuro.
Se os
dinheiros não abundavam, os rapazes, com a prestimosa colaboração do senhor
prior da terra, que atestava a idoneidade moral da família, eram mandados para
o seminário, quer tivessem ou não vocação para padre, porque a vocação
apareceria com o andar dos tempos e, como quer que fosse, sempre era melhor
estar no seminário do que nos campos a contribuir para o sucesso do primogénito;
às raparigas restava esperar que um filho “morgado” de outra casa rica se
engraçasse com elas, ou então ficariam escravas da casa até que a morte as
“libertasse”…
No caso em
apreço, o moço, que tinha imenso jeito para lidar com animais, escolheu estudar
veterinária; mas aconteceu que, apanhando-se noutro ambiente, passou o tempo
todo na estroinice e, passados os anos que supostamente duraria o curso,
apresentou-se em casa “doutor veterinário”, para orgulho da família e da terra,
levando o regozijo do “velho”ao ponto de lhe oferecer uma festa como nunca
houvera outra na aldeia.
Quando, ia
animado o repasto, um dos criados da casa foi chamar o patrão porque a melhor
vaca leiteira não comia nem se conseguia
levantar, o lavrador quase que deu graças a Deus pela oportunidade
proporcionada ao novo veterinário de pôr em prática o que tinha aprendido.
E o “doutor”
não se mostrou nada acanhado. Chamou o irmão mais velho, mandou-o postar-se do
lado traseiro do animal e espreitar por um dos “buracos” aí situados, enquanto
ele, espreitando pela boca, ia perguntando ao mano se o conseguia ver…Perante a
resposta negativa, afivelou um ar de caso sério e disse ao pai que,
infelizmente, o mal que a vaca tinha era “nó na tripa”, doença nada fácil de
curar, mas que não estava ali para outra coisa!... ///…///
Das minhas
trinta e três amantes/Apenas três me não traíram;
Mas dessas
três, sempre constantes/ Duas por fim também partiram.
De amor
eterno, alto, modelo/ Foi uma só, das trinta e três…
Mas essa, em
paga do seu zelo/Sou eu que a engano muita vez…
NOTA – Texto
de Amândio G. Martins e poema de António Feijó.
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