Santana-Maia Leonardo
Na política partidária, convivem dois tipos de pessoas: os crentes (raríssimos) e os fanáticos (a esmagadora maioria). Os crentes interessam-se pelas ideias; os fanáticos pelo resultado. Eu sempre pertenci ao primeiro grupo pelo que nunca confundi um partido com um clube de futebol, ao contrário da maioria.
Como já devem ter percebido, depois da dura desilusão que constituiu para mim a governação da coligação PSD-CDS, convertida ao credo do mercado (onde o preço das coisas é mais importante do que o valor das coisas), tornei-me politicamente ateu. Deixei de acreditar nos partidos, nos seus dirigentes e nos seus militantes.
Como devem ter constatado aqueles que costumam ler o que eu vou escrevendo, o resultado destas eleições não só não me surpreendeu como era aquele que eu vaticinava. O nosso povo é muito previsível. Desde o séc. XIX que não houve uma única vez em que o primeiro-ministro não tivesse vencido as eleições sempre que terminou o mandato. Somos um povo pessimista, por natureza, e que não gosta de correr riscos. Ao contrários dos norte-americanos, o português residente prefere sempre o mal conhecido ao bem desconhecido. Quem pensa diferente não pára por aqui muito tempo. Bastava, por isso, a Passos Coelho terminar o mandato para vencer as eleições. Com ou sem coligação. Quem fez o grande negócio da coligação foi o CDS, uma vez que o PSD, se tivesse concorrido sozinho, teria obtido um resultado semelhante. O CDS é que corria o risco de desaparecer do mapa.
Quanto ao BE, sem querer retirar méritos a Catarina Martins, que teve uma boa prestação nos debates, só quem não conhecer o nosso povo é que pode atribuir a isso o seu sucesso eleitoral. O PS concorreu a estas eleições muito debilitado: sangrava por todos os lados. E o BE foi o receptáculo natural dos votos socialistas descontentes com a liderança de António Costa, tal como o CDS é o receptáculo natural dos votos dos descontentes do PSD. Mas todos esses votos regressam rapidamente à casa-mãe quando está na hora do assalto ao poder.
Quanto aos pequenos partidos, era bom que não confundissem as europeias com as legislativas. As europeias são uma espécie de Taça de Portugal onde os pequenos partidos podem fazer um brilharete. Mas as legislativas são mais previsíveis do que o nosso campeonato nacional de futebol. No campeonato das legislativas, ganha sempre o PS ou o PSD, independentemente de Apitos Dourados, Vistos Gold, Submarinos, BPN, etc. Os portugueses só se escandalizam com os erros de arbitragem quando prejudicam a sua equipa.
Quanto ao futuro, se tudo correr dentro do rame-rame habitual, a coligação governará dois anos e, em 2017, Marcelo Rebelo de Sousa dissolverá o Parlamento, permitindo ao PS ganhar com maioria absoluta.
No entanto, se, surpreendentemente, António Costa decidir fazer uma coligação de governo com a CDU e o BE, então aí, sim, iremos assistir à maior reforma estrutural da democracia portuguesa, o que (diga-se) já não era sem tempo. E, convenhamos, depois do papão do fascismo, já vai sendo tempo de enterramos o papão do comunismo.
Caro Santana-Maia Leonardo,
ResponderEliminarPior do que o papão do comunismo é o monstro do aventureirismo feito por quem não tem vergonha de ter aplicado um golpe traiçoeiro ao Seguro por o ele ter ganho por pouco e acaba a perder por muito. Fora isto a sua análise é cristalina. Já agora confesso-me agnóstico relativamente à vida partidária.
O amigo Santana-Maia Leonardo é mesmo "politicamente ateu"! Até nem acredita que o fascismo foi efetivamente um papão. Quanto ao papão comunista, se tanta gente ainda não continuasse a acreditar nele, digam lá sinceramente, mesmo com a discriminação que é sujeita pela Comunicação Social, acham que a CDU só teria este resultado? Em relação à sua total descrença com os partidos e com todos os seus militantes, esperemos que um dia destes, o nosso amigo Santana-Maia Leonardo, nos diga quem e como deveria ser governado o nosso e os outros países.
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