AMOR
AOS LIVROS
Nada mais parecido
ao homem do que o livro. Nem retrato ou estátua o reflectem melhor. Se o busto
de Nefretite, a misteriosa Gioconda, o ardente Van Gogh parecem penetrar-nos na
alma antes do os fixarmos na retina, o diálogo interior com a figura esculpida
ou pintada permanece vago e estático, com o livro, não.
O autor fala
connosco, cria o seu próprio ambiente, apresenta-nos a suas personagens,
faz-nos viver o que ele viveu ou imaginou, abre-nos o seu pensamento, desafoga
o coração… Podemos gostar ou não da sua convivência, mas ali temos alguém; não
só uma obra sua.
Engana-se,
por conseguinte, quem acusa de solipsismo os “ratos de biblioteca”. Pelo
contrário, esse cavalheiro linfático e corcovado, sôfrego de papel impresso,
vive rodeado de gente, e gente tão interessante que já nem suporta a vulgar
conversa do vizinho…
Talvez lhe
caia em cima a desgraça do Quixote, que, de tanto ler, “se le secó el cerebro”;
não o taxem, porém, de solitário! Compreendam a sua paixão insaciável de
humanidade, que na vida extrabibliotecária se reduz ao conhecimento de uns
poucos indivíduos, geralmente insípidos pares ao seu gosto requintado. E se o
tomo acariciado,olfactado, desfolhado, for velho, de séculos, muito melhor; é
como se estivesse a ser lido em companhia de sucessivas gerações!
Livros são
varandas sobre o mundo, estradas que percorrem lés a lés, milhares de
intimidades abertas à nossa compreensão ou curiosidade, criações de novos
mundos, e novas humanidades…
Nota – Texto de monsenhor Hugo de Azevedo,
publicado há vários anos no Jornal de Notícias, onde tinha uma coluna semanal,
e transcrito por
Amândio G.
Martins
Nada mais parecido
ao homem do que o livro. Nem retrato ou estátua o reflectem melhor. Se o busto
de Nefretite, a misteriosa Gioconda, o ardente Van Gogh parecem penetrar-nos na
alma antes do os fixarmos na retina, o diálogo interior com a figura esculpida
ou pintada permanece vago e estático, com o livro, não.
O autor fala
connosco, cria o seu próprio ambiente, apresenta-nos a suas personagens,
faz-nos viver o que ele viveu ou imaginou, abre-nos o seu pensamento, desafoga
o coração… Podemos gostar ou não da sua convivência, mas ali temos alguém; não
só uma obra sua.
Engana-se,
por conseguinte, quem acusa de solipsismo os “ratos de biblioteca”. Pelo
contrário, esse cavalheiro linfático e corcovado, sôfrego de papel impresso,
vive rodeado de gente, e gente tão interessante que já nem suporta a vulgar
conversa do vizinho…
Talvez lhe
caia em cima a desgraça do Quixote, que, de tanto ler, “se le secó el cerebro”;
não o taxem, porém, de solitário! Compreendam a sua paixão insaciável de
humanidade, que na vida extrabibliotecária se reduz ao conhecimento de uns
poucos indivíduos, geralmente insípidos pares ao seu gosto requintado. E se o
tomo acariciado,olfactado, desfolhado, for velho, de séculos, muito melhor; é
como se estivesse a ser lido em companhia de sucessivas gerações!
Livros são
varandas sobre o mundo, estradas que percorrem lés a lés, milhares de
intimidades abertas à nossa compreensão ou curiosidade, criações de novos
mundos, e novas humanidades…
Nota – Texto de monsenhor Hugo de Azevedo,
publicado há vários anos no Jornal de Notícias, onde tinha uma coluna semanal,
e transcrito por
Amândio G.
Martins
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.