INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL
Era uma tarde
de Agosto em Nova Iorque, insuportavelmente quente e abafada, um daqueles dias
em que o suor e o desconforto tornam as pessoas taciturnas e irritadiças. Eu
estava de regresso ao hotel e quando entrei no autocarro, em Madison Avenue,
fui surpreendido pelo condutor, um negro de meia idade com um sorriso
entusiasta, que me acolheu com um amigável “viva, como vai isso?”, saudação que
dirigiu a quantos iam entrando enquanto o autocarro ia avançando a passo de
caracol por entre o denso tráfego da Baixa. Todos os passageiros ficavam tão
surpreendidos como eu e, fechados no sombrio estado de espírito que o dia
propiciava, poucos respondiam ao cumprimento.
À medida, porém,
que o autocarro ia progredindo lentamente pelas ruas, ocorreu em todos nós uma
gradual e mágica transformação. O condutor manteve um incessante monólogo em
nosso proveito, um animado comentário da cena que ia desfilando lá fora: havia
uns saldos óptimos naquela loja, uma exposição estupenda naquele museu, já
ouviram falar do filme que estreou no cinema ao fundo do quarteirão? O encanto
daquele homem com a riqueza das possibilidades que a cidade oferecia era
contagiante. Quando as pessoas saíam do autocarro, já sacudidas para fora da sombria
concha onde se tinham fechado, e o motorista lhes lançava um “Até à vista,
tenha um óptimo dia!” todas lhe respondiam com um sorriso.
A recordação
deste encontro está comigo há perto de vinte anos. Quando apanhei aquele
autocarro em Madison Avenue tinha terminado o meu doutoramento em psicologia –
mas a psicologia daqueles tempos dava muito pouca atenção aos mecanismos
através dos quais uma tal transformação podia acontecer. A ciência psicológica
pouco ou nada sabia a respeito da mecânica da emoção. E no entanto, imaginando
o vírus de boa vontade que deve ter-se espalhado pela cidade, transportado
pelos passageiros do autocarro, compreendi que aquele motorista era uma espécie
de pacificador urbano, um mago dotado do poder de transmutar a saturnina irritabilidade
que envolvia os seus semelhantes, de suavisar-lhes e abrir-lhes um pouco o
coração.
* Em jeito de
contraste, aqui ficam algumas notícias dos jornais recentes: Numa escola local,
um garoto de nove anos perde a cabeça, despeja tinta em cima das secretárias,
computadores e impressoras e causa danos num autocarro que se encontrava no
parque de estacionamento. A razão: alguns colegas da 3ª classe chamaram-lhe
“bebé” e ele quis impressioná-los.
* 57% das
vítimas de assassínio com menos de 12 anos, diz um relatório, são mortas pelos
pais ou pelos padrastos. Em quase todos os casos os pais declaram “que estavam
apenas a tentar disciplinar a criança”. Os espancamentos fatais são provocados
por “infracções” como pôr-se à frente da televisão, chorar ou sujar as fraldas.
*Vários
jóvens ficaram feridos quando um empurrão inadvertido entre adolescentes
degenerou numa luta a soco e pontapé e terminou com um deles a disparar para a
multidão, coisa que se tornou banal por todo o país.
NOTA- Este
texto pertence ao livro “Inteligência Emocional”, de Daniel Goleman – Círculo
de Leitores, e foi transcrito por
Amândio G.
Martins
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