RECORDANDO ANTÓNIO
FEIJÓ
Licenciado em
Direito por Coimbra, António (Joaquim de Castro) Feijó exerceu advocacia por
algum tempo, até se virar em definitivo para a carreira diplomática.
Começando
pelo Brasil, onde foi admitido sócio da Academia Brasileira de Letras, seguiu
daí para a Suécia, onde viveu cerca de vinta anos, casou e teve filhos; mas a
morte prematura da mulher tê-lo-á de tal forma abalado que pouco tempo lhe
sobreviveu.
A passagem de
ambientes tão exuberantes como o seu Minho natal e o Brasil, para um clima como
aquele dos países nórdicos, foi um choque de que nunca se libertou:
Terras do
Norte,meu longínquo exílio!
Águas
tranquilas, pinheirais, rochedos…
Por estes
bosques nunca andou Virgílio,
Nem melros
cantam nestes arvoredos…
(…)
O azul do céu
é desmaiado e frio;
O azul dos
olhos sem fulgor latente;
Doira os
cabelos este sol de estio
Mas não
aquece o coração da gente…
E suspirava
pela sua Ribeira-Lima, que não voltou a ver.
São águas
claras sempre cantando,
Verdes
colinas, alvor de areia,
Brancas
ermidas, fontes chorando
Na tremulina
da lua-cheia…
(…)
Olhos d`Aquela
que eu estremeço
Se de tão
longe pudésseis ver-me!
Olhos divinos
que eu nunca esqueço
Morro de
frio, vinde aquercer-me…
O AMOR E O
TEMPO
Pela montanha alcantilada
Todos quatro
em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.
Da minha Amada
no gentil semblante
Já se viam
indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E
o Tempo acelerava o passo.
-“Amor! Amor! mais devagar!
Não corras
tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza
caminhar
A minha doce companheira!”
Súbito, o
Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas
trémulas ao vento…
-
Porque voais assim tão apressados?
-
Onde vos dirigis?” – Nesse momento,
Volta-se o Amor e diz com
azedume:
-Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o tempo…Adeus!
Adeus!
FÁBULA ANTIGA
No princípio do mundo o Amor não
era cego;
Via mesmo através da escuridão
cerrada
Com pupilas de Lince em olhos
de Morcego.
Mas um dia, brincando, a Demência,
irritada,
Num ímpeto de fúria os seus
olhos vasou;
Foi a Demência logo às feras
condenada,
Mas Júpiter, sorrindo, a pena
comutou.
A Demência ficou apenas
obrigada
A acompanhar o Amor, visto que
ela o cegou.
Como um pobre que leva um cego
pela estrada.
Unidos desde então por invisíveis
laços,
Quando o Amor empreende a mais
simples jornada,
Vai a Demência adiante a
conduzir-lhe os passos.
Nota – Poemas de António Feijó,
transcritos por
Amândio G. Martins
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