QUANDO A LEI E A MORAL
DIVERGEM
“Na escola
dirigida por Roberto, os alunos organizaram uma recolha de fundos para uma
instituição de caridade.
Para
incentivar a participação de todos pensou-se um concurso com diversos prémios,
sendo o primeiro uma bicicleta de montanha. Cada dez euros recolhidos davam
direito a um bilhete.
No final da
campanha todos se reuniram no auditório da escola para se proceder ao sorteio.
Tudo correu em ambiente de feliz confraternização, com a entrega dos prémios a
quem a eles tinha direito.
Acontece que
a vencedora da bicicleta, Tatiana, não participou na angariação, tendo entrado
no sorteio com um bilhete oferecido pela amiga Clarabel, que havia ganho vários
bilhetes.
Assim, um
aluno que sabia da situação procurou o professor Roberto e queixou-se que não
era justo o pricipal prémio ser entregue a alguém que não tinha angariado um
centavo.
Roberto, que
desconhecia este pormenor, ficou sem saber o que fazer, porque entretanto
apareceram mais queixosos, entre os quais o pai de Clarabel, que reivindicava
para a filha a bicicleta.
O director da
escola não queria repetir o sorteio, mas não vislumbrava uma saída satisfatória
para o problema e o ambiente estava a tornar-se tenso.
Em termos
legais, a Tatiana tinha direito ao prémio, dado que o bilhete lhe tinha sido
oferecido de livre vontade pela amiga Clarabel, mas era moralmente embaraçoso
alguém que não mexera uma palha na recolha de fundos usufruir de um prémio
justamente instituído para esse fim.
Por outro
lado, o mais importante de tudo, que era o empenho de grande parte dos alunos
numa boa acção, tinha passado para segundo plano, sobressaindo o egoísmo sempre
latente no ser humano. Qual será a finalidade mais elevada da caridade: ajudar
os necessitados por sermos compassivos, ou ajudá-los por querermos ganhar um
prémio?
Analisada a
questão de vários ângulos, Roberto viu finalmente uma saída e emitiu uma NOTA
onde dizia que os bilhetes para o sorteio não eram transmissíveis entre os
alunos, pedindo desculpa por ter faltado esse ponto no regulamento.
Ficou claro
que a bicicleta deveria ficar com a Clarabel, que uma vez na sua posse poderia
fazer dela o que bem entendesse, inclusivé oferecê-la à sua amiga Tatiana.
Todas as
pessoas envolvidas na angariação de fundos e no sorteio tiveram as melhores
intenções. O conflito com os prémios não tinha sido previsto e deu mais
canseira do que alguém teria podido adivinhar. Mas uma das lições que deste
caso se pode tirar é que é sempre possível encontrar a solução ética para todos
os problemas.”
Nota-Lamentávelmente
não sei de onde copiei estes apontamentos, que constam dos meus papéis sem
qualquer referência à fonte e me pareceu interessante transcrever.
Amândio G.
Martins
Sem comentários:
Enviar um comentário
Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.