Em 20 de Fevereiro deste ano, uma notícia publicada no
Público chamou-me deveras a atenção. De tal forma, que resolvi recortar o pedacinho de jornal que lhe dizia respeito: «Oliver Sacks, o escritor dos contos clínicos, sofre de cancro terminal». O (também) neurologista e professor anunciava a sua morte num artigo publicado no
New York Times no dia anterior intitulado
My Own Life (
A minha própria vida). Dizia que lhe restavam apenas algumas semanas de vida. Sacks soube poucas semanas antes que tinha metástases no fígado como um desenvolvimento do tumor raro num olho diagnosticado e tratado 9 anos antes. Com 81 anos, ainda nadava uma milha por dia! Impressionou-me ter dito que estava entre os 2% de desafortunados a quem aquele cancro dá origem a metástases… Nesse artigo de 19 de Fevereiro (2015), escreveu “fui um ser com sentidos, um animal pensante, neste maravilhoso planeta,e isso, em si, foi um enorme privilégio e uma aventura (…) espero que o tempo que me resta me permita aprofundar as minhas amizades , despedir-me daqueles que amo, escrever mais, viajar se tiver forças para isso, alcançar novos níveis de conhecimento e compreensão”.
Os médicos davam-me algumas semanas que se transformaram em 6 meses. Morreu no passado domingo, 30 de agosto.
Uma inspiração para todos nós. Ainda mais que todos os seus projectos eram motivados pelo amor que tinha aos seus doentes. Penso igualmente no jovem professor americano David Menasche que resistiu ao cancro por mais 7 anos que o tempo que lhe foi dado pelos médicos e que relata a sua viagem - duma ponta à outra dos EUA quase cego e paralisado de um braço para se encontrar com os seus ex-alunos , a sua maior paixão - em A Lista de Prioridades, editora Nascente. Um livro fabuloso.
Voltando ao célebre neurologista… aguardo a publicação em Portugal (assim o espero) do seu último livro, uma autobiografia intitulada On the Move (“em movimento”, “em mudança”).
Menasche morreu aos 41. Sacks aos 82. Coincidentemente, David tinha metade da idade do neurologista. Mas ambos viveram digna e corajosamente com o cancro até ao último suspiro. Não ficaram em casa, não obstante a doença. Quiseram continuar a ser úteis aos outros, vivendo a paixão das suas vidas até à «última gota»!
(
Público, 1-9-2015)
A objectividade e a coragem de alguns seres humanos que sabem agradecer a dádiva dos dias deveria ser um exemplo a seguir por quantos passam a vida lastimando-se, a maioria das vezes sem razão.
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