quarta-feira, 26 de agosto de 2015

RELEMBRANDO...

                           ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA
Saudoso da monarquia e execrando o regime nascido em Abril de 1974, nos principais protagonistas pelas últimas decisões políticas que libertaram Portugal, libertando os povos colonizados, factos a que chamou “pavoroso êxodo dos portugueses”, Mário  Soares, que é um homem de cultura e não mistura alhos com bugalhos, condecorou-o, no que terá sido um dos últimos actos oficiais da sua presidência, com o Grande Oficialato da Ordem do Infante D. Henrique.
Cerca de um mês antes de morrer, em 08.06.2010, Couto Viana escreveu este poema:
ESTERTOR
Amei o meu Portugal.
Dei-lhe a minha poesia
E assisto ao seu final
Dia após dia.
Não há ninguém que lhe acuda
Com verdade combatente.
Só avisto quem o iluda
Só avisto quem lhe mente.
Pobre povo, onde, a raíz
Do que foi o “nobre povo” ?
Não escutes quem te diz
Que está a erguer-te de novo.
Portugal, perdeste a estrada
Do império e do brasão.
Hoje, não és nada, nada…
Nem pra quem te estenda a mão.
Morreste em Évora Monte.
E a coroa ao abandono
Serviu para cingir a fronte
Da república no trono.

Memorial do Coração – Conversa a Quatro Mãos – Quetzal Editores.

Do comportamento das instituições escreveu o dr. José Pereira Fernandes em Editorial da Revista Limiana, da casa do Concelho de Ponte de Lima em Lisboa:
“O falecimento recente do escritor Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013), uma das figuras mais relevantes da vida literária, cultural e cívica portuguesa do século XX, veio pôr mais uma vez em evidência a ingratidão com que são tratadas no nosso país muitas das grandes figuras da Cultura.
Numa clara alusão a Urbano Tavares Rodrigues, Maria Teresa Horta considerou que “este é um Portugal ingrato, é um Portugal que não gosta de si próprio, não gosta do melhor que tem” . Entre outras personalidades que se pronunciaram no mesmo sentido, destaca-se ainda José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, para quem Urbano Tavares Rodrigues “foi prejudicado por várias coisas, uma delas por ser demasiado generoso num meio social e intelectual que não costuma reagir muito bem à generosidade”.
Estas denúncias de ingratidão trazem-nos à memória António Manuel Couto Viana, nascido também no ano de 1923, tal como Natália Correia, Eugénio de Andrade, Luís Amaro, Eduardo Lourenço, João Maia, António Quadros, Orlando Vitorino, Mário Cesariny e Fernando de Passos, o que levou o crítico e ensaísta João Bigotte Chorão a dizer num dos seus estudos que “este foi um ano de boa colheita”.
Apesar de perfilharem diferentes ideais políticos, Urbano Tavares Rodrigues considerava António Manuel Couto Viana um poeta, ensaísta, dramaturgo, ficcionista e encenador dotado de uma “vastíssima cultura e de múltiplos talentos”.
Mas, tal como Urbano, também António Manuel foi vítima, mesmo depois da sua morte, da ingratidão do Portugal que amou e a quem deu a sua poesia, nomeadamente num inqualificável episódio protagonizado pelos nossos representantes na Assembleia da República que, com a sua passividade, e contrariamente ao que havia sido proposto por doze deputados, impediram que este órgão de soberania prestasse homenagem a esta grande figura da Cultura Portuguesa e enderessasse votos de condolências à família, com fundamento em factos que, a serem verdadeiros, se reportariam ao período em que o poeta teria cerca de 13 a 16 anos de idade!
Transcrito por  Amândio G. Martins

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.