ANTÓNIO MANUEL COUTO
VIANA
Saudoso da
monarquia e execrando o regime nascido em Abril de 1974, nos principais
protagonistas pelas últimas decisões políticas que libertaram Portugal,
libertando os povos colonizados, factos a que chamou “pavoroso êxodo dos
portugueses”, Mário Soares, que é um
homem de cultura e não mistura alhos com bugalhos, condecorou-o, no que terá
sido um dos últimos actos oficiais da sua presidência, com o Grande Oficialato
da Ordem do Infante D. Henrique.
Cerca de um
mês antes de morrer, em 08.06.2010, Couto Viana escreveu este poema:
ESTERTOR
Amei o meu
Portugal.
Dei-lhe a
minha poesia
E assisto ao
seu final
Dia após dia.
Não há
ninguém que lhe acuda
Com verdade
combatente.
Só avisto
quem o iluda
Só avisto quem
lhe mente.
Pobre povo,
onde, a raíz
Do que foi o
“nobre povo” ?
Não escutes
quem te diz
Que está a
erguer-te de novo.
Portugal,
perdeste a estrada
Do império e
do brasão.
Hoje, não és
nada, nada…
Nem pra quem
te estenda a mão.
Morreste em
Évora Monte.
E a coroa ao
abandono
Serviu para
cingir a fronte
Da república
no trono.
Memorial do
Coração – Conversa a Quatro Mãos – Quetzal Editores.
Do
comportamento das instituições escreveu o dr. José Pereira Fernandes em
Editorial da Revista Limiana, da casa do Concelho de Ponte de Lima em Lisboa:
“O
falecimento recente do escritor Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013), uma das
figuras mais relevantes da vida literária, cultural e cívica portuguesa do
século XX, veio pôr mais uma vez em evidência a ingratidão com que são tratadas
no nosso país muitas das grandes figuras da Cultura.
Numa clara
alusão a Urbano Tavares Rodrigues, Maria Teresa Horta considerou que “este é um
Portugal ingrato, é um Portugal que não gosta de si próprio, não gosta do
melhor que tem” . Entre outras personalidades que se pronunciaram no mesmo
sentido, destaca-se ainda José Jorge Letria, presidente da Sociedade Portuguesa
de Autores, para quem Urbano Tavares Rodrigues “foi prejudicado por várias
coisas, uma delas por ser demasiado generoso num meio social e intelectual que
não costuma reagir muito bem à generosidade”.
Estas
denúncias de ingratidão trazem-nos à memória António Manuel Couto Viana,
nascido também no ano de 1923, tal como Natália Correia, Eugénio de Andrade,
Luís Amaro, Eduardo Lourenço, João Maia, António Quadros, Orlando Vitorino,
Mário Cesariny e Fernando de Passos, o que levou o crítico e ensaísta João
Bigotte Chorão a dizer num dos seus estudos que “este foi um ano de boa
colheita”.
Apesar de
perfilharem diferentes ideais políticos, Urbano Tavares Rodrigues considerava
António Manuel Couto Viana um poeta, ensaísta, dramaturgo, ficcionista e
encenador dotado de uma “vastíssima cultura e de múltiplos talentos”.
Mas, tal como
Urbano, também António Manuel foi vítima, mesmo depois da sua morte, da
ingratidão do Portugal que amou e a quem deu a sua poesia, nomeadamente num
inqualificável episódio protagonizado pelos nossos representantes na Assembleia
da República que, com a sua passividade, e contrariamente ao que havia sido
proposto por doze deputados, impediram que este órgão de soberania prestasse
homenagem a esta grande figura da Cultura Portuguesa e enderessasse votos de
condolências à família, com fundamento em factos que, a serem verdadeiros, se
reportariam ao período em que o poeta teria cerca de 13 a 16 anos de idade!
Transcrito
por Amândio G. Martins
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