Os portugueses estão de férias. Propagam os meios de Comunicação e
Agências dos meios. Não sei quantos são nem de onde chegam. Aqui à sombra de
tudo que é muro e sopé deste lugar, não se lê nem se consultam estatísticas
governamentais nem jornais cheios de lérias oficiais sobre turismo mentiroso
quanto tornozelo vistoso que às vezes aparece de mochila às costas e com máquina
digital curiosa a tiracolo. Mas vejo pelos cafés/restaurantes, vazios, e ouço pelas
ruas das montras dos enganos, que aquela gente que as espreita e que em frente
delas se detém, quase refém, a perscrutar tabelas, preços e ementas ou "menu
em franciú de maçon em visita", e a imaginar uma qualquer velha
receita da avó que ficou só, a fazer contas antes de entrar com os olhos bem
espetados no aperto do desacerto que a vida contém, que as férias dos
portugueses não são folgadas nem piscinam felizes. São antes, preocupações
disfarçadas que não dão para leitão nem perdizes, sob uns óculos e chapéus
chineses, calções e chinelos por vezes a condizer com a t-shirt estampada e
comprada nos saldos ou na feira sazonal da contrafacção, a mesma que usamos no
arraial de todo o ano e em dia de romaria, e que a gastamos e exibimos sentados
no banco do jardim da horta, com um falso crocodilo pregado, agora uma águia ou
um leão, outras um dragão, que neste país chamado Portugal, é assim cada vez
mais o traje nacional. O meu pai com 86 anos e eu com 60, ele com chapéu de
palha e eu com sandálias de pescador, conversamos todos os dias à soleira da
porta e ao lado da janela onde se debruça a dor, como nem Deus com Jesus, sobre esta coisa do que é ser – férias,
praias, ilhas, cruzeiros - com que alguns passam o ano a sonhar gozá-las, e
por elas até morrer no vir e voltar. O meu pai mira-me desde os seus olhos enrugados
e diz que isso é mister de ricos. Eu respondo-lhe com os olhos arregalados e
frustrados, ser coisa de luxo.
-(poema)
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