quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Diz a canção


Diz a canção ‘tenho todo o tempo do mundo’. E todos os acomodados com a vida, vivendo-a no ramerrame do dia-a-dia, e não querendo mais do que isso, aceitam tal situação temporal, como se fossem, sem pensar, eternos, em que o tempo não conta.
Sendo assim, tal situação temporal de se ter ‘todo o tempo do mundo’, a quietude seria tão inquietante, que nós seríamos, talvez, apenas pedras vivas, cobertas pelos musgos dos tempos, que tempos teriam para se postarem perante ‘todo o tempo do mundo’ e dos tempos dos mundos que virão, na infinitude dos tempos que tempos terão para termos ‘todo o tempo do mundo’.
E eu, pobre mortal, à beira dos tempos postado, acho que não terei ‘todo o tempo do mundo’, nem lamechas sou, para a todos confessar que jamais terei ‘todo o tempo do mundo’, pois sinto-me, e sou, tão pequeno, que nem tempo terei para tudo a todos exprimir, neste meu micro espaço temporal do tempo que a vida terrena me está a conceder, sem ter ‘todo o tempo do mundo’ para ter mais tempo para tal vos dizer, acerca da canção que diz, erradamente, ‘tenho todo o tempo do mundo’, que, afinal, não tenho, nem nunca terei.


José Amaral

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