quinta-feira, 8 de outubro de 2015

QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA

Durante as minhas caminhadas diárias e madrugadoras, procuro alterar os percursos e desta forma me actualizar das alterações do meu burgo e sem dar por isso, dou comigo entre outras coisas, a cantarolar uma canção. Ainda hoje, em plena Rua 31 de Janeiro, lá ia eu feliz da vida quando reparo que entoava "em cada esquina, um amigo..." e recordei as mudanças toponímicas daquela artéria que de início fora baptizada de Rua de Santo António. Lembro-me muito bem que antes do 25 de Abril era proibido chamar 31 de Janeiro, mas que eu, para aumentar o meu currículo revolucionário e desafiando a própria Pide, escrevia nas facturas dum cliente daquela rua, o nome proibido. Após o 25 de Abril, do contra como antes e para contrariar os poderes instalados, passei a usar o nome do Santo padroeiro dos comerciantes, hoje em vias de extinção contando-se pelos dedos os poucos que resistem. A juntar a este espectáculo degradante de montras entaipadas de lojas outrora ricas e luxuosas, depara-se-nos a deprimente realidade dos sem-abrigo dormindo nos portais dos estabelecimentos abandonados. E sem dar por ela, chego à Praça da Liberdade a cantarolar novamente Zeca Afonso com os acordes de Grândola, Vila Morena mas com a letra alterada para "em cada portal, um sem-abrigo". Não vai sendo hora de honrar os dois nomes daquela rua? Jorge Morais
 
Publicada nos Jornais PÚBLICO e METRO em 08.10.2015 e JN em 21.10.2015

3 comentários:

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.