quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

A VERDADE SOBRE O PECADO ORIGINAL

Com muita razão o grande pensador cristão Huberto Rohden, quando afirma que o chamado pecado original não passa de uma infeliz criação do judaísmo, em seu período de maior decadência, depois da morte do profeta Malaquias, cerca de 4 séculos antes de Cristo.

Tendo em vista que o primeiro teólogo do cristianismo foi um egresso da velha sinagoga de Israel – Paulo de Tarso –, não é de se estranhar que tal ideia tenha invadido as hostes cristãs.

A estória do pecado original, segundo Rohden, dava um grande prestígio ao antigo clero da sinagoga, como ainda o dá ao clero da igreja atual, porque o sacerdote terá o poder de dessatanizar a criatura humana, isto é, através do batismo, por incrível que pareça, uma criança supostamente nascida sob o poder das trevas seria iniciada no reino da luz.

Que grandiosa ignomínia contra os princípios da verdade! O ser que teria nascido imperfeito, diabólico, das mãos de Deus, tornar-se-ia perfeito e cristão por força das mãos de um pecador humano, através do rito sacramental do batismo.

Nas irônicas palavras de Rohden – o sacerdote teria o poder de transformar um filho do Diabo num filho de Deus.

E o pior: segundo invenção da teologia eclesiástica, criança morta sem batismo não vai para o céu nem passa o inferno. Seu destino seria o limbo – lugar sem calor, sem frio, sem alegria e sem tristeza: a maior definição do nada, de todos os tempos.

Sem dúvida que o pecado original, com base no chamado pecado de Adão que contamina todo o nascimento do homem, não passa de farsa que deu origem ao suposto poder sacerdotal de eliminar a mácula do berço através do batismo, que, historicamente, tem outro sentido, já que João nunca batizou uma criança, mas apenas pessoas adultas que se penitenciavam diante de suas faltas antes do mergulho nas águas do Jordão; vale dizer, a penitência, o propósito de regeneração era superior ao ritual da imersão nas águas, pois esta simbolizava tão somente a morte do pecador e a ressurreição do regenerado. A palavra batismo, de origem grega, significa mergulho.

João afirmava que seu batismo era na água, mas que viria aquele (o Cristo) que nos batizaria no espírito santo, isto é, que nos mergulharia nas coisas espirituais. Jesus nunca batizou ninguém. Permitiu ser batizado, para materializar um fenômeno, previsto nas profecias, que o identificaria como o enviado de Deus prometido à humanidade (aparecimento de uma pomba).

Segundo Pascal, “a verdade não interessa a muitos, interessa o Poder. Quando a verdade é compatível com o Poder, os teólogos a toleram; mas quando é incompatível, os teólogos substituem a verdade pelo Poder e o Evangelho pela teologia”.

Seja como for, mesmo no meio do absurdo das lendas, há alguma cousa insinuando a verdade, pois a lenda sempre encerra alguma realidade.

A criança que vem ao mundo nada tem a ver com o chamado pecado adâmico, mas ela traz em si, às vezes, a bagagem de um passado cheio de faltas.

É sabido, desde os antigos tempos, que o homem não começa sua vida ao nascer no mundo: a este retorna seu espírito após experiências anteriores, através de outras existências. “Somos de ontem e nada sabemos” (Livro de Job, cap. 8º, v. 9º). Falando sobre João Batista, Jesus afirma que este era o profeta Elias que estava para vir (Mateus, 11, v. 14).

Pela reencarnação, trazemos no arquivo do ser a reminiscência de máculas de existências anteriores, daí o nosso pecado de origem – um pecado próprio e não de outrem.

Pelos caminhos da nova existência, a criatura, buscando outros hábitos, vai expurgando o passado infeliz, e, com seu próprio esforço e a ajuda de Deus, conquistando sua auto-realização, sua evolução espiritual.

Conquanto a reencarnação seja um fato incontestável e até mesmo uma justificação de toda a problemática das desigualdades humanas perante a Justiça Divina, não se deve valorizá-la exageradamente, porque mais importante do que o renascimento físico é a renovação espiritual do homem, que se processa em qualquer plano, independentemente da volta ao mundo material, principalmente quando se trata de espíritos já dotados de um elevado nível de livre arbítrio, observada, porém, a limitação deste.

Nenhum poder sacerdotal, de ministro evangélico, de guru espiritualista ou de médium espírita nos pode fazer melhores, mas apenas a nossa luta individual pela reforma íntima.

Pode-se acrescentar ao que já foi dito sobre o chamado pecado original que a atual humanidade ainda é fruto de uma encarnação de cunho animalesco, daí as suas misérias, tais como as doenças e a própria morte do invólucro físico.

Segundo o Gênesis de Moisés, os Elohins – as potências cósmicas encarregadas da formação da Terra – teriam dito ao primeiro casal – primeiro, não no sentido de primeiros seres humanos, mas de primeiros seres a entrarem em contato com a sua consciência humana – “crescei e multiplicai-vos”.

Não se tratava de um crescimento físico, pois o casal era adulto, mas de um crescimento moral, de uma evolução, a ponto de superar a libido animalesca e realizar a procriação mais sublimada, com a predominância do amor que, com o passar do tempo, dispensaria até mesmo o congresso carnal, como aconteceu na concepção de Jesus.

Mas a mulher ouviu a serpente – símbolo da inteligência luciferina, isto é, inteligência sem o governo da razão – e aprendeu que se pode experimentar o prazer, pelo simples prazer, sem a finalidade de procriação, e ensinou o companheiro a praticar o sexo como fim e não apenas como meio, pervertendo o instinto. E, na evolução pelo tempo afora, a inteligência luciférica descobriu a pílula anticoncepcional e outros processos para intensificar a prática da luxúria, que degrada o homem à condição inferior à do animal.

A concepção, no estágio atual da humanidade, em que predomina mais a libido do que o amor ou somente a libido, é o “conhecimento do fruto da árvore do bem e do mal”, cujo efeito é precário, pois o corpo já nasce herdando todas as deficiências, daí sua inevitável morte.

Já a concepção, através de envolvimento de auras espirituais, garante o nascimento de um corpo definitivo, não mais sujeito à morte; é o “conhecimento do fruto da árvore da vida”, como aconteceu com Jesus – o protótipo da nova humanidade, em que o homem será imortal física e espiritualmente, como já acontece em esferas mais evoluídas do Universo.

Por enquanto haverá nascimento e morte, como consequência de uma falha em nossa origem corpórea, o que poderíamos dizer “pecado original”, pois se o homem pode procriar através de uma forma mais elevada, mas ainda o faz de maneira inferior, há um débito pesando, mesmo que inconscientemente, na alma humana.

O insigne mestre Rohden – tantas vezes citado – afirma: “Enquanto tivermos de nascer e morrer, não possuímos ainda a plenitude do viver. Só um corpo luz, indestrutível, é que nos isentará de nascimentos e mortes e nos garantirá vida eterna”.


 

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