quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

VISÃO

 Penso que estou a atingir o máximo das minhas capacidades intelectuais. Estará a chegar a hora de escrever a obra de grande fôlego, a obra que condense e sintetize todos os meus conhecimentos. De resto, não tenho que andar a invejar esses escritores superficiais que por aí andam. Eu construí o meu caminho. Por vezes errático, é certo. No entanto, sempre na demanda do Graal. Sempre à procura de algo que ainda não encontrei. Que procuro nas mulheres, nos livros, nas canções, nas noites, na fogueira, nos copos. Procuro companheiros, homens e mulheres nobres, gente que se afasta do macaco que trepa. Nem sempre da forma mais ortodoxa. Gosto de brincar, de gozar, de jogar com o sexo. Serei, como o Jim Morrison, um político erótico. A verdade, meus amigos, é que não tenho os interesses do cidadão comum. Caminho pela cidade como Sócrates ou Jesus. Contudo, antevejo o caos e o apocalipse. Vejo guerras, terrorismo, rapina, intriga, mais pestes, tragédias naturais. Possivelmente só alguns sobreviverão para construir o novo mundo socialista. A mulher de Modivas elucidou-me. Estamos a ser postos à prova neste mundo. Só alguns alcançarão o mistério. A grande multidão vive a dormir, a pastar como as vacas. Não pescam nada, mesmo que estejam cheios de dinheiro. Ecce Homo. São seis da manhã. Não consigo dormir. Desejo a vida abundante. Não esta paz podre, não este tédio. Vim para o Renascimento do Homem.

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