quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Com passaporte falso


A pressa desenfreada é má conselheira. Deslumbrados pelo brilho das luzes que vêem ao longe, quiçá as do poder, sôfregos por abocanhá-lo, alguns pensadores de extrema-direita começam a sentir que os “seus tempos” poderão estar a aproximar-se.

O panegírico de André Ventura, nas páginas do PÚBLICO, em 30/11, que Fátima Bonifácio (F.B.) intitulou “Desnorte”, diz-nos que o que é imperioso é entrar na “Cidade”, mesmo com passaporte falso, se preciso for. Os “destemperos do Chega”, ora, ora, serão “frutuosos”, nada mais do que isso. Porquê? Porque permitirão à direita que exiba as vergonhas, em defesa dos “nossos (de quem?) sagrados direitos, liberdades e garantias”. E como se consegue isto, tão caro a F.B.? Com “gradualismo”, se necessário inspirado em Burke, pela mão de Ventura, esse filósofo, que, na esteira de F.B., colocará acima de tudo a “liberdade individual e colectiva”. Sem revolucionários nem revoluções, que maçam F.B., o país deverá alterar profundamente a sua Constituição, aniquilando alguns dos princípios fundamentais da nossa Civilização. Não é isto uma contradição de F.B. nos seus próprios termos? A historiadora está, possivelmente, sem norte, encandeada com o “barulho das luzes”.    


Público - 07.12.2020

1 comentário:

  1. Eu diria que FB "sabe muito bem aonde quer chegar".... Lamentavelmente com os pontos cardeais trocados....

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