A adulteração sistemática dos significados de expressões vulgares acaba, frequentemente, por normalizar conceitos que, na génese, não estavam lá. É o caso da “extrema-esquerda”, que, não há muito tempo, se associava apenas a organizações como o Baader-Meinhof alemão, as Brigadas Vermelhas italianas, alguns partidos portugueses do pós-25 de Abril - que exibiam, entre-parêntesis, o apêndice m.l. (marxista-leninista) -, e a movimentos de pendor vincadamente nacionalista, como a ETA e o IRA, acumulando este um vínculo religioso (católico) bem acentuado. Tornou-se normal falar da “geringonça” como uma contratualização entre o PS e a “extrema-esquerda”, englobando-se aqui PCP e BE, numa “simplificação” enganadora, como o demonstra Isabel do Carmo, no seu artigo de opinião no PÚBLICO de 12/12, em que procura, sem encontrar, “Onde está o extremismo da esquerda?”. Se ele está nas reivindicações do PCP (e também do BE) para a “passagem” do Orçamento 2021, todas abaixo do que qualquer partido “moderadamente” social-democrata da Europa exige, então, com metodologias de classificação semelhantes, teríamos de concluir que, em Portugal, tudo o que está para a direita do PS é de “extrema-direita”. Claro que não é!
A intransigência de alguns com a esquerda portuguesa, apelidando-a de extremista, revela medo. Só não sei do quê.
O que escreveu tem várias pontas por onde se pegar, mas fico-me por duas considerações. A primeira para manifestar o meu espanto por dizer que o IRA era conotado com a extrema esquerda, pois nunca tal ouvi! Extremista sim, mas "sem lado" político"! A segunda para dizer que o PCP não tem do que se queixar pois- e eu ( que pouco conto) nunca na minha vida me referi a ele como de extrema esquerda - pois também ele vai mudando a linguagem em relação ao PS, que ora é englobado na direita, ora é "assim-assim", mas de esquerda é que não é. Quando muito um "sapo"... E confesso, não preciso de "extremar" o PCP para sentir "medo" pois para mim, comunista basta....
ResponderEliminarO que me espanta, verdadeiramente, é o seu espanto. Não sou especialista na história do IRA, nem o que sobre ele escrevi (uma mera menção) pretendeu abarcar tudo numa vida de mais de um século. Durante este tempo, é natural que o “Exército” tenha mudado de orientação política variadíssimas vezes, e, durante esse intervalo, existiu uma facção do IRA de inspiração marxista, que acabou numa cisão. Foi só de 1969 a 1972, mas, a mim, basta-me para não ter de corrigir o meu texto, sobretudo no enquadramento em que ele foi pensado e escrito. Espanta-me é que o Fernando, apesar de nunca ter ouvido falar disso, não se tivesse dado ao trabalho de confirmar se era ou não verdade o que eu escrevi.
ResponderEliminarNão me consta que o PCP se queixe do Fernando quanto à forma como se lhe refere. Nem tinha que constar, porque eu, ao PCP, não sou nada, nem militante, nem advogado, e continuo a viver tranquilamente, sem “medo” dele. O meu post foi suscitado exclusivamente pelo texto que lá citei da médica, professora da Faculdade de Medicina de Lisboa, membro do grupo Estamos do Lado da Solução, Isabel do Carmo.
Peço desculpa pela minha ignorância sobre o IRA, ou melhor, pela parte que o José agora me ensinou. Quanto ao resto, divergimos. E a Isabel do Carmo não é, quanto a mim, pessoa boa para "desempatar" o que quer que seja neste assunto.
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