segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A língua é uma arma

 

A adulteração sistemática dos significados de expressões vulgares acaba, frequentemente, por normalizar conceitos que, na génese, não estavam lá. É o caso da “extrema-esquerda”, que, não há muito tempo, se associava apenas a organizações como o Baader-Meinhof alemão, as Brigadas Vermelhas italianas, alguns partidos portugueses do pós-25 de Abril - que exibiam, entre-parêntesis, o apêndice m.l. (marxista-leninista) -, e a movimentos de pendor vincadamente nacionalista, como a ETA e o IRA, acumulando este um vínculo religioso (católico) bem acentuado. Tornou-se normal falar da “geringonça” como uma contratualização entre o PS e a “extrema-esquerda”, englobando-se aqui PCP e BE, numa “simplificação” enganadora, como o demonstra Isabel do Carmo, no seu artigo de opinião no PÚBLICO de 12/12, em que procura, sem encontrar, “Onde está o extremismo da esquerda?”. Se ele está nas reivindicações do PCP (e também do BE) para a “passagem” do Orçamento 2021, todas abaixo do que qualquer partido “moderadamente” social-democrata da Europa exige, então, com metodologias de classificação semelhantes, teríamos de concluir que, em Portugal, tudo o que está para a direita do PS é de “extrema-direita”. Claro que não é!

A intransigência de alguns com a esquerda portuguesa, apelidando-a de extremista, revela medo. Só não sei do quê.

3 comentários:

  1. O que escreveu tem várias pontas por onde se pegar, mas fico-me por duas considerações. A primeira para manifestar o meu espanto por dizer que o IRA era conotado com a extrema esquerda, pois nunca tal ouvi! Extremista sim, mas "sem lado" político"! A segunda para dizer que o PCP não tem do que se queixar pois- e eu ( que pouco conto) nunca na minha vida me referi a ele como de extrema esquerda - pois também ele vai mudando a linguagem em relação ao PS, que ora é englobado na direita, ora é "assim-assim", mas de esquerda é que não é. Quando muito um "sapo"... E confesso, não preciso de "extremar" o PCP para sentir "medo" pois para mim, comunista basta....

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  2. O que me espanta, verdadeiramente, é o seu espanto. Não sou especialista na história do IRA, nem o que sobre ele escrevi (uma mera menção) pretendeu abarcar tudo numa vida de mais de um século. Durante este tempo, é natural que o “Exército” tenha mudado de orientação política variadíssimas vezes, e, durante esse intervalo, existiu uma facção do IRA de inspiração marxista, que acabou numa cisão. Foi só de 1969 a 1972, mas, a mim, basta-me para não ter de corrigir o meu texto, sobretudo no enquadramento em que ele foi pensado e escrito. Espanta-me é que o Fernando, apesar de nunca ter ouvido falar disso, não se tivesse dado ao trabalho de confirmar se era ou não verdade o que eu escrevi.
    Não me consta que o PCP se queixe do Fernando quanto à forma como se lhe refere. Nem tinha que constar, porque eu, ao PCP, não sou nada, nem militante, nem advogado, e continuo a viver tranquilamente, sem “medo” dele. O meu post foi suscitado exclusivamente pelo texto que lá citei da médica, professora da Faculdade de Medicina de Lisboa, membro do grupo Estamos do Lado da Solução, Isabel do Carmo.

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    1. Peço desculpa pela minha ignorância sobre o IRA, ou melhor, pela parte que o José agora me ensinou. Quanto ao resto, divergimos. E a Isabel do Carmo não é, quanto a mim, pessoa boa para "desempatar" o que quer que seja neste assunto.

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