sábado, 25 de janeiro de 2020

25 DE JANEIRO—DIA DA CIDADE DE SÃO PAULO, DO CARTEIRO E DA BOSSA NOVA


A maior metrópole da América Latina completa 466 anos. Quantas pessoas em busca de trabalho e novos rumos na vida ela abrigou! Como é emocionante assistir a um vídeo do famoso médium Francisco Cândido Xavier, envolvido na aura espiritual do seu mentor Emanoel, que teria sido o próprio virtuoso sacerdote português Manoel da Nóbrega, em existência anterior, o grande fundador da urbe! É uma autêntica lembrança do nascimento da cidade, com a celebração da solene missa no Pátio do Colégio, em 25 de janeiro de 1554.
Quão grande encantamento nos traz a maviosa melodia da valsa “Rapaziada do Brás”; os arranjos musicais dos “Demônios da Garoa” interpretando composições de Adoniran Barbosa; o romantismo dos “Trovadores Urbanos ”lembrando as serestas inesquecíveis;  os eventos musicais de Francisco  Petrônio e os memoráveis  bailes animados pela grandiosa  orquestra “Tabajara “de Severino Araújo, tudo a nos encher de saudade dos inolvidáveis anos dourados que não mais voltam, mas ainda podem ser recordados, na cidade mineira de Poços de Caldas, pela boa  orquestra do maestro  Miguel de Brito, e, em Caldas Novas e Rio quente, Estado de Goiás, pelos maravilhosos recitais de piano do exímio tecladista Roberto Stroessner(Beto), reproduzindo, com o mais amplo e variado repertório, a esplendorosa boa música, que haverá  de ser eternamente preservada, apesar da passageira avalanche desta musiquinha de mau gosto que vem prevalecendo na atualidade.
E por falar em música, não se pode esquecer de mencionar o marcante estilo Bossa Nova, agora completando 62 anos de existência, a partir da gravação do vinil do saudoso João Gilberto, em 1958, “CHEGA DE SAUDADE”,  contendo, entre várias composições, além de uma com este nome,  de autoria de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, outra também composta por este, “DESAFINADO”, em que aparece pela primeira vez o nome Bossa-Nova com o sentido de talento novo, batizando, assim, o mais internacional movimento musical brasileiro, que se tornou um grande estilo, na abalizada opinião de Edson Wander, em ótimo artigo publicado  pelo jornal brasileiro da bela cidade de Goiânia, capital do próspero Estado de Goiás, “O Popular”, em 18/05/2008. O tema também foi abordado muito bem pelo grande jornalista Ruy Castro em seu livro “ Chega de Saudade”, que se tornou uma verdadeira enciclopédia, e por outros trabalhos seus: “A Onda que Saiu do Mar” e “Novos Mergulhos na Bossa”.  
Antes disso, final de 1957, houve um animado festival no carioca Club Hebraico, com a presença de Carlos Lyra, Sylvia Teles, Luís Eça e Ronaldo Bôscoli, no qual se apesentaram variadas composições, e também aconteceu o lançamento do disco de Elizeth Cardoso, “CANÇÃO DO AMOR DEMAIS”, que faz o primeiro registro fonográfico da batida sincopada no ritmo do toque de João Gilberto em seu violão. Jobim, atento a essa batida— uma espontânea criação de ouvido—, enquadra a coisa na teoria musical, ao repelir a corda sonora baixa (bordão), e, através de uma desaceleração do tempo da nota musical (o tempo tem parte fraca e forte), produz a síncope para resultar um padrão rítmico com o som acentuado na parte fraca e prolongado na outra parte. Carlos Lyra foi também um outro grande teórico da Bossa. Surge então um misto de tique-taque com teleco-teco nessa musiquinha harmoniosa e agradável, que encontra nos versos de Vinícius de Moraes a expressão da alegria contagiando variados ritmos, especialmente o samba- canção que, na bossa, sai da fossa. Assim, como afirmou Menescal, a juventude de 20 anos não poderia continuar cantando samba - canções com dizeres melancólicos: “Ó Deus, como sou infeliz” e “se eu morresse amanhã não faria falta a ninguém”.
Mesmo quando retratam o lado triste das coisas, as composições bossanovistas apontam o rumo da superação dos males. Pode-se ver isso na bela canção “APELO” (Toquinho e Vinícius), ao mostrar a necessidade do perdão, cujo significado etimológico não é esquecimento, desligamento, e sim, grande doação. Observem alguns de seus versos: “Ah! meu amor, não vás embora. Não, eu te peço não te ausentes, pois a dor que agora sentes só se esquece no perdão. Eu te suplico que não destruas tantas coisas que são tuas, por um mal que já paguei”. Um belo nome intitula a composição de Baden Powel e Vinícius— o “SAMBA DA BÊNÇÃO”, que afirma em sua letra: “É melhor ser alegre do que ser triste, mas para fazer um samba com beleza é preciso um pouco de tristeza” 
 Tom, que teria hoje 93 janeiros, nos deixou, há 25 anos (08/12/94). Em homenagem ao nascimento deste genial músico (25 de janeiro de 1927), editou-se, por iniciativa do ilustre deputado Chico de Alencar, a Lei nº 11.926 de 17/04/2009, que consagra 25 de janeiro como dia nacional da Bossa Nova. Formou com João Gilberto e Roberto Menescal o trio criador deste belo estilo musical.
Houve muitos participantes nesse movimento artístico, entre eles e elas, destacam-se: Carlos Lyra,  Ronaldo Bôscoli, Baden Powell, Johnny Alf, Elizete Cardoso, Sylvinha Telles(cantora predileta de Tom Jobim), Wanda Sá, Márcia,  Leny Andrade, Sílvio César, Joyce, Luiz Bonfá, Marcos Valle, Paulo Sergio Valle, Luiz Carlos Vinhas, Dick Farney, Toquinho, Claudete Soares, Edu Lobo, Oscar Castro Neves, Chico Freitas, Tito Madi, Lúcio Alves, Jair Rodrigues, Simonal, Miúcha, Agostinho dos Santos, Geraldo Vandré, Sérgio Mendes, Maysa, Maria Betânia, Maurício Einhorn, trio “Os Cariocas”, “Quarteto em Si”, Gal Costa, a grande musa Elis Regina e Nara Leão, que esteve exilada em Paris, porque além de repórter do combativo jornal “Última hora”, cantava muita música tida como contestadora do regime militar, sobretudo o samba “Opinião”.
Em meados dos anos sessenta, Caetano Veloso abraça o tropicalismo e, através da irônica canção criticando o movimento (“Saudosismo”), rompe com este.  Dick Farney e Johny Alf trazem a influência jazzística para a Bossa. Dick pode ser considerado um se seus precursores, pois, ao gravar “COPACABANA”, exigiu acompanhamento especial no tom sincopado da canção. E sobretudo depois que Frank Sinatra encantou o Tio Sam (USA) com a “GAROTA DE IPANEMA”, começou a falsa história de que a Bossa seria mera derivação do jazz americano da costa do Pacífico, quando, na verdade, este apenas passou a influenciá-la, mas ela não deixou de ser coisa originalmente nossa. Também na França, houve uma enorme divulgação desse gênero musical, através do saudoso grande melodista Henry Salvador, nascido na Guiana Francesa e que por muito tempo residiu no Rio de Janeiro.
Torna-se oportuno lembrar que, nesta data, se comemora no Brasil o dia nacional do carteiro, essa laboriosa formiguinha humana que é vista em todos recantos da pátria e ainda, nos atuais dias da moderna comunicação, continua a prestar relevantes serviços à coletividade, no árduo trabalho de entrega de correspondências em todos os setores urbanos, enfrentando sol e chuva, em cima de bicicletas e, às vezes, até mesmo a pé. O Dia do Carteiro é celebrado nesta data em homenagem à criação do Correio-Mor da Monarquia Portuguesa no Brasil, em 25 de janeiro de 1663, sendo Luiz Gomes da Matta Neto o nome do primeiro carteiro do Brasil. Ele já atuava como Correio-Mor em Portugal, passando depois a ser o responsável no Brasil pela troca de correspondências da Corte portuguesa.

Concluindo, rendo um jubiloso preito à grande metrópole paulista, aos abnegados carteiros e, em especial, à minha apreciada Bossa- Nova, à qual dedico o seguinte poema enumerando algumas de suas composições e respectivos personagens que dela participaram, para o encanto do Brasil e do mundo.
        A BOSSA É NOSSA
Quão sublime, noite adentro,
uma doce voz, sobretudo feminina,
ao som de sax, pistom com surdina
e suave repicar de violão,
fazendo a bossa nova
no toque-taque do atabaque
e no chocalhar da maraca!

Embala-me a genial
criação de Tom Jobim,
João Gilberto e Menescal,
os versos de Vinicius de Moraes
e a saudosa Elis Regina com Jair Rodrigues
no ARRASTÃO de dois na bossa,
a rolar como as ÁGUAS DE MARÇO.

Depois, vislumbro Gal cantando BONITA
e, meio DESAFINADO, lhe faço um APELO
para ser MINHA NAMORADA
e que linda namorada poderia ser!
Então, lhe daria a mão na ESTRADA DO SOL,
                     declarando: EU SEI QUE VOU TE AMAR.
                     Ah! SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ,
porque SÓ TINHA QUE SER COM VOCÊ
mas PRECISO APRENDER A SER SÓ,
para, em profunda MEDITAÇÃO,
contemplar Miúcha no SAMBA DO AVIÃO,
pois ELA É CARIOCA e a morena vai sambar
e com ela SÓ DANÇO SAMBA, o SAMBA DE VERÃO,
enquanto Dick, em COPACABANA, com ESTE SEU OLHAR,
por  uma e outra onda (WAVE) sempre a surgir,
namora a princesinha do mar,
sem perder de vista Maysa conduzindo O BARQUINHO
e Nara Leão, este bem, bem distante da pátria,
OUTRA VEZ a cantar CHEGA DE SAUDADE, no exílio em Paris.

E o torrão brasileiro se expande lá fora
no vozeirão de Sinatra, encantando o Tio Sam
com a GAROTA DE IPANEMA, sem, no entanto, esclarecer
que a bossa – coisa nossa- é o próprio seio do Brasil,
um coração a saltitar no busto de suas lindas mulheres,
envolto em deslumbres mil,
e jamais filha do americano jazz,
com o qual se afina, no enlevo que este traz
só para influenciar
e, no dizer de Carlos Lyra,
o nosso samba entortar.

1 comentário:

  1. Obrigado prof. Vivaldo, por me fazer recordar belos tempos.
    Nara Leão, Edu Lobo, Geraldo Vandré. Que grandes intérpretes! Assisti à ascenção de todos eles.

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