Em 27 de janeiro de 1945, unidades do exército
soviético sob o comando do general russo Petrenko, tendo na vanguarda tropas de
choque da 100ª Divisão de Infantaria, com presença do bravo major Anatoly
Shapiro, tomavam o campo de extermínio de Auschwitz, no sul da Polônia,
libertando cerca de 7 mil prisioneiros que aguardavam a morte nas câmaras de
gás.
Era o fim do maior inferno criado pelos nazistas,
onde foram mortos, além de milhares de homossexuais, ciganos, deficientes
físicos, comunistas, idosos, crianças e cerca de 3 milhões de judeus, no desenrolar
da segunda guerra mundial, que terminaria pouco mais de três meses depois,
abreviada que fora providencialmente, antes de a Alemanha concretizar seu
projeto atômico, graças não só pela libertação da França com o heroico
desembarque das forças aliadas nas praias da Normandia em 06/06/1944 (o famoso
dia “D”), com morte de mais 4.000 sodados nas primeiras 24 horas de combate,
mas também pela fantástica operação Regation, da noite de 22 para 23 de junho,
quando 1.200.000 soldados soviéticos libertaram a Bielorrússia, com mais de 500.000
baixas nas hostes alemãs, obrigando estas a um recuo de 700 Kms., o que
possibilitou a desocupação da Lituânia e do leste da Polônia, pondo Varsóvia ao
alcance e Berlim na mira.
Foi
um outro dia “D” quase desconhecido no Ocidente, embora noticiado pelo jornal
britânico Guardian, conforme notável entrevista de Leonídio Paulo Ferreira no
Diário de Notícias (DN) de Lisboa. Só nessa operação, cujo nome homenageia o
grande herói da guerra patriótica da Rússia imperial contra Napoleão Bonaparte,
o exército vermelho perdeu 800 mil dos mais de 25 milhões mortos durante todo o
conflito. Era o começo do fim do 3º Reich. Hitler errou ao invadir o país: o
patriotismo russo, apesar dos expurgos internos do regime totalitário reinante,
foi mais forte do que o fanatismo nazista.
Em Auschwitz, as torturas físicas e morais
praticadas por agentes da SS de Himler, chefe da polícia política do Reich
(Gestapo), a serviço do fanatismo hitlerista, atingiram o mais elevado grau de
sadismo e desrespeito na prática de crimes contra a humanidade. Milhares de
criaturas que chegavam em comboios ferroviários liam lá fora dizeres
proclamando a dignidade do trabalho que liberta (ARBEIT MACHT FREI) – uma
hipócrita ironia –, pois na realidade, o que deveria estar escrito na entrada,
seria o aviso de Dante Alighieri, no pórtico do inferno mencionado na clássica
obra pré-renascentista Divina Comédia: “Deixai aqui fora toda a esperança vós
que entrais” (LACIATI OGNI SPERANZA VOI QUE ENTRATI). Botinhas de crianças e cabelos
de mulheres encontrados nos depósitos levaram o comandante soviético a uma
emoção com lágrimas, segundo entrevista sua no ano de 2001 à rádio BBC de
Londres. Ali esteve recentemente minha prima Waldevira Bueno Pires de Moura,
inteligente jornalista de caderno literário e professora, que ficou
estarrecida: uma aura pesada ainda envolve aquele ambiente, apesar do tempo que
já passou.
No começo, muitos prisioneiros pensavam que apenas
ficariam detidos para prestação de serviços forçados e sujeitos à alimentação
precária. No entanto, a chamada “grande solução” decretada pelo Fuhrer não
tardaria a entrar em vigor. Nas imensas fileiras de desembarque já eram
separadas as primeiras vítimas entre as mais esquálidas, as mais debilitadas, e
porque não dizer, as que se apresentavam mais feias.
As outras que ainda sobreviveriam no campo, às vezes
perguntavam a companheiros de infortúnio por certos acompanhantes de viagem e
logo ouviam a resposta: olhem a fumaça das chaminés dos fornos crematórios,
pode ser do corpo das pessoas procuradas.
Naquele campo o nível de autoestima baixou ao mais
ínfimo patamar. A chance de sobrevivência era mínima. A maioria desejava o
suicídio que poderia acontecer facilmente com um simples avanço sobre as cercas
elétricas que circundavam todas as localidades. Ai de quem fosse flagrado
tentando impedir um suicídio!
Os prisioneiros eram espancados sob pretextos
absurdos. Bastava um passo errado, uma simples mancada ou um pequeno
desalinhamento nas colunas de pelotão em longa marcha para o intenso trabalho
de implantação de linhas ferroviárias. Os que estavam no interior às vezes se
revezavam com os que marchavam nas linhas exteriores, porque estes eram mais
vistos e a todo momento maltratados.
Entre os detentos estava o ilustre médico psicoterapeuta
Victor Frankl, cujo livro “Um Psicólogo no Campo de Concentração” relata as
atrocidades acontecidas em Auschwitz. Preso em sua clínica em Viena, por ser
remoto descendente de judeu, nem sequer teve permissão de ir à sua residência
para buscar objetos pessoais. No campo, com o máximo cuidado, aconselhava os
companheiros a manter a boa aparência, com ar de simpatia e jamais pensar em
suicídio, porque alguma coisa ainda esperava por eles lá fora, caso
sobrevivessem. Alguns diziam: Tudo está perdido, nossas famílias destruídas,
nossos sonhos desmoronados, o que nos espera? Ele respondia: Nem que seja um
livro a ser escrito sobre nossas vidas.
Quantos ele livrou do suicídio, ao recomendar que
deixassem isso para depois, e, assim, muitos foram relegando para outro dia a
realização do ato extremo, que acabava não acontecendo, e muitos deles,
inclusive o ilustre médico, foram transferidos, até mesmo antes da libertação
soviética, para o campo de Dachau, onde havia apenas concentração de presos,
sem câmaras de gás.
Finda a guerra, em maio de 1945, Victor Frankl
voltou às atividades profissionais, dirigindo a Policlínica Neurológica da
Universidade de Viena e criou, em universidades de vários países, inclusive em
San Diego, na Califórnia, a cátedra de logoterapia, ou seja, a cura radical das
anomalias psíquicas por força da razão espiritual, que supera não só o
unilateralismo de Sigmund Freud, que analisava tudo sob o prisma do
subconsciente, mas também a força do supraconsciente admitida por Addler e
Jung.
Para Victor Frankl, o logos inerentes à criatura
humana, ou seja, a sua própria razão espiritual, é capaz de vencer todas as
mazelas. Huberto Rohden, o grande filósofo e pensador espiritualista
brasileiro, de quem tive a honra de ser aluno, considerava o ínclito
ex-prisioneiro de Auschwitz como a mais eloquente manifestação da psicanálise
de todos os tempos, tendo-o como o criador da terceira escola psicanalítica de
Viena.
Que os benfeitores da humanidade Victor Frankl e
outros mais, como o industrial Schindler(conhecido
pela famosa lista que leva o seu nome),o diplomata português Aristides de Souza Mendes, salvadores de
milhares de judeus, sejam exemplos aos atuais dirigentes da nação judaica, para
o abrandamento de suas represálias contra os povos vizinhos, sobretudo os
palestinos que merecem ter sua pátria; senão, em tempos futuros, haverão de
sofrer as consequências da lei de causa e efeito que rege o mundo físico e metafísico,
como expressão da própria Justiça Divina: “Quem com ferro fere, com ferro será
ferido”. Nada fica impune. Quem planta vento terá que colher tempestades (Paulo—Gálatas,
6-7 e 8). As represálias de Israel contra agressões sofridas têm sido
desproporcionais; superam, em muito, a antiga lei mosaica do “olho por olho e
dente por dente”.
Faz-se necessária a extinção dos estopins que poderão
ocasionar mais uma grande conflagração mundial. Os conflitos no Médio Oriente e
a indevida intervenção dos Estados Unidos e seus aliados ocidentais, com seu
armado braço atômico de Israel, nas questões internas da região, quase sempre
por interesses petrolíferos, não podem continuar. Recentemente, violando todas
as normas de direito internacional, um general do Irã foi covarde e
traiçoeiramente executado por bombardeio, sob o pretexto de combate ao terrorismo.
Consequentemente, devido ao clima bélico instalado, a artilharia antiaérea
iraniana, temendo novos ataques, abateu por engano um avião comercial da
Ucrânia, matando quase duas centenas de passageiros. Outrora, promoveu-se uma sangrenta guerra contra
o Iraque, sob falsa justificativa de eliminar um armamento químico
inexistente.
Não foi à toa que a saudosa líder religiosa Helen
White, insuspeita de qualquer ideologia política, afirmou que seu país
representa uma das bestas do Apocalipse—“a de chifre de cordeiro, mas que age
como dragão”. Quantas guerras tem feito atendendo também a interesses
armamentistas! Jamais se pode esquecer os lançamentos de artefatos atômicos nas
cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, a maior tragédia da humanidade, cuja
causa principal, além de liquidar a fanática resistência do Japão praticamente
vencido, foi um simples receio de vê-lo dominado pelo exército soviético pronto
para invadi-lo. Aliás, não fôra a ofensiva deste na operação Regation, que
abreviou o fim da guerra na Europa, uma das bombas nucleares americanas,
poderia ter sido direcionado para Berlim, com um maior número de vítimas e as
mais imprevisíveis consequências no continente europeu.
A segunda grande guerra foi marcada pela presença de
quatro monstruosas feras humana: o camarada Stalin (Estaline na grafia portuguesa), o terrível ditador do
partido “proletário”(PCUS), guerreou apoiado na competência dos seus generais; Hitler, o cruel tirano de um estado
racista, guerreou contestando os seu marechais; Mussolini, o sanguinário “duce” da Itália, um tipo de imperador
Nero reencarnado, e finalmente o despótico “democrata” Truman, dominado pelos seus belicistas militares, que, ao suceder
ao grande estadista Franklin Roosevelt,
autorizou o bombardeio atômico no Japão, e assim dava continuidade à guerra
fria USA x URRS, que iniciou quando esta última deixou de participar do apoio
anglo- americano à insurreição de Varsóvia em 1943 contra a ocupação alemã, e
mais tarde teve prosseguimento na tomada de Berlim, quando o inteligentíssimo e
muito temperamental general George Patton, contrariado por já encontrar cidade
sob o poder do exército vermelho (a coisa estava ruça, com muito russo querendo
vingar as atrocidades alemãs em seu país), endereçou um injurioso bilhete ao
seu xará George Zukov, o herói da resistência de Moscou e da batalha de
Stalingrado, chamando-o de idiota e dizendo que ele não era bem-vindo. Patton
dotado de grande intuição já previa uma futura provisória divisão de Berlim, entre
as potências aliadas.
Existe atualmente uma guerra fria de interesse
econômico-tecnológico entre Estados Unidos e China, mas a antiga já acabou em
1991, com a extinção da URSS e consequente desmoronamento da muralha de Berlim,
que agora o presidente Trump quer transplantar na fronteira do México, mas
continua arraigada na mentalidade do atual presidente da nação brasileira,
principalmente o seu ministro das relações exteriores, envolvidos pelo fantasma
do anticomunismo outrora tão invocado até de má-fé contra toda ideia nova
oposta ao conservantismo reacionário. É a chamada civilização cristã ocidental,
que de cristã só tem o nome. Com razão Gandhi quando sempre declarava aceitar o
Cristo e seu evangelho, mas não o cristianismo das religiões. Aliás, o filósofo
alemão Nietzsche já havia dito que se o Cristo voltasse ao nosso planeta, teria
de proclamar, em alto e bom som: “ Cristãos de toda a Terra, nada tenho a ver
com o vosso cristianismo! ”
Perdura ainda o medo da fracassada experiência
socialista soviética, cuja implantação teve como uma das causas a vã tentativa
de Churchil de levar suprimentos ao Império Russo. Sua derrota para Mustafa
Kemel, na famosa batalha de Gallípole na Turquia, alimentou, sem dúvida, o
triunfo da revolução bolchevique de 1917, financiada pelos alemães para tirar a
Rússia da guerra, o que resultou, indubitavelmente, em um dos maiores
acontecimentos históricos do século passado, que abalou o mundo, cujas
consequências são por demais conhecidas, como bem analisou o meu genial mano
Orivaldo Jorge de Araújo, engenheiro, bacharel em direito e professor universitário,
num bom artigo sobre o centenário do evento de 1917, violento como muitos
outros, inclusive a revolução francesa de 1789, e logo de início executou toda
a família imperial, nem crianças foram
poupadas.
Seu desiderato seria a criação de um socialismo
apaziguador da luta de classes com base no materialismo dialético que, na
realidade, mesmo com muito progresso num país semimedieval, não correspondeu aos
anseios do povo, sobretudo na atividade agrícola arruinada pela trágica
coletivização da propriedade rural, ao contrário dos Estados Unidos que
alcançaram alta produtividade com seu sistema cooperativista.
O verdadeiro socialismo, bem diferente do pensamento
materialista de Marx e do despótico social nacionalismo nazista, é democrático
e liberal, visando a uma melhor distribuição da riqueza e não a divisão da
miséria. Será o regime ideal de uma humanidade futura composta de indivíduos
espiritualmente evoluídos, radicalmente éticos e fraternos dispostos a uma vida
sóbria, contentando-se apenas com o necessário, para formação de uma sociedade
menos desigual sem os excessos do luxo, do lixo e da luxúria, que são a fonte
de todos males do nosso planeta, segundo o citado filósofo, pensador cristão e
cientista Huberto Rholden.
O
atual mundo globalizado, sob a égide do capitalismo decadente causador da
desumana crise do desemprego, vive uma tirânica guerra econômica e uma
complicada ciranda financeira, em que os países mais fortes oprimem os mais
fracos e se arrogam até no “direito” de impor sanções contra as nações
subjugadas, haja vista a nova fase imperialista dos Estados Unidos no governo
Trump. Um dia, porém, tudo isso terá fim. Já estamos no 3º milênio destinado à
transformação de nosso planeta de sombras de expiação e provas para o planeta
de luz da regeneração. Deus não poderá continuar sendo derrotado pelos homens.
Haverá um novo céu e uma nova Terra (Apocalipse, cap. 21), sem guerras,
doenças, dores e lágrimas.
Deus o ouça, professor, e possa haver uma Terra sem guerras, fome e doenças!...
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