sábado, 11 de janeiro de 2020

O "dedo leve" da incompetência

O Irão acabou por se retratar e reconheceu a culpa no abate dum avião civil, por um míssil. Terá sido, segundo o ministro dos Negáocios Estrangeiros iraniano, Mohammmad Javad Zarif, devido a "um erro humano em tempos de crise, causada pelo aventureirismo norte-americano, que levou ao desastre" (sic).
Ficam-me duas  ou três perguntas imediatas. Como vai ser penalizada a pessoa que carregou no "botão" de disparo, por engano? Se fosse mulher seria, talvez, lapidada mas, em sendo homem, a decepação duma das mãos, não? Sempre às ordens de Alá... A pergunta final é: com "dedo tão leve",  o que seria se o "botão" fosse do nuclear?
Uma nota final para o espanto (possível?)) que me causa a "meia frase"- que relevo no primeiro parágrafo - em que até o "dedo leve" do incompetente, teve "dedo" norte-americano...

Fernando Cardoso Rodrigues 

4 comentários:

  1. Basicamente, nada tenho a contrariar neste texto. Pareceu-me, contudo (e posso estar enganado), que se dá uma visão demasiadamente global e generalizada do mundo islâmico. Em minha opinião, “adivinhar” eventuais punições (“Sempre às ordens de Alá”), equalizando países com organizações político-sociais completamente diferentes como o Irão e, por exemplo, a Arábia Saudita, torna-se imprudente. O Irão não é uma ditadura do mesmo calibre da Arábia e, ao contrário, usufrui de uma cultura que o próprio Ocidente muito preza. Aliás, neste momento, os analistas internacionais realçam a maior “inteligência” e prudência dos iranianos relativamente aos “trumpianos”, nas medidas anti-escalada, quando avisaram iraquianos (e, indirectamente, os americanos) dos ataques a fazer, “tendo o cuidado”, na sua execução, de atingir zonas em que não provocassem mortandades. A este propósito, devo confessar que, na audição do programa “Radicais Livres” de hoje, na Antena 1, aprendi mais sobre o assunto do que na leitura de inúmeras notícias e artigos analíticos.
    (Nota: É muito fácil aceder ao podcast do programa no site da Antena 1, que muito recomendo a todos os interessados na escalpelização possível desta matéria. Chamo a atenção para os pormenores relativos aos trabalhos diplomáticos das partes envolvidas e ainda às condições económicas para que o Irão foi empurrado pelas sanções americanas, reduzindo-lhe os mercados da sua principal fonte de exportação, o petróleo, a países como a Turquia, a Rússia, a China e a Coreia do Norte.)
    Não vamos branquear os iranianos, mas, por favor, não esqueçamos o assassinato (não me importo de o classificar de cobarde) de Soleimani por Donald Trump, alegadamente por prevenção face a inúmeros casos de ataque por ele comandados contra interesses e pessoas norte-americanos, que o Secretário de Estado Mike Pompeo, instado insistentemente pela Imprensa a exemplificar, acabou por mostrar que não sabia. Nada que nos admire muito, que ainda temos memória das “tenebrosas armas” que Sadam Hussein possuía, nas palavras de George W. Bush (bem acompanhado de Tony Blair, Aznar e, não se esqueçam, de Durão Barroso). Hoje, sabemos quem eram os mentirosos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Venho aqui numa "pressinha" pois, nos próximos dois dias, não o poderei fazer e, nesta coisa de comentários, sabe como sou na sua incrementação, que define um blogue. Dito isto, repare o José que eu tive o cuidado de usar a palavra "(in)competência" pois foi disso que se tratou no caso vertente. Claro que não poderia deixar em claro aquela do ministro culpar os EUA pelo "dedinho" iraniano - incompetente - que carregou no botão ( não sei bem porquê, lembrei-me daquela caricata história recente em que a esposa do político recebia um salário para "acarinhar" o marido...), não concorda comigo? Quanto ao "mundo islâmico" e às difereças entre Irão xiita e Arábia Saudita sunita, elas são factuais, mas não são suficientes para que me esqueça das "afinidades desavindas" sobre um assunto que não percebo: "as ascendências e descendências" do profeta e a qual deles pertence a verdade. Mas que sei serem anacrónicas e nos "moem a cabeça", a nós ocidentais que, culturalmente cristãos, somos laicos e liberais nos princípios e na lei.
      Termino com aquilo que já disse aqui, há dias: Trump é um ser nefasto e mandou assassinar um homem político também ele nefasto, o que faz dele um assassino, além de velhaco e ignorante. O que me "assusta" pela destruição a que está levar uma cultura que habito com convicção. O Irão matou 176 pessoas inocentes por.... incompetência, que foi aquilo que verberei e me "assusta"... igualmente.

      Eliminar
    2. Bem sabe que compartilho o seu “gosto” pelos comentários. Ainda bem para ambos. Sem lhe tomar muito tempo, apenas umas notas.
      Claro que foi incompetência, mas o decisor tinha 10 segundos para decidir carregar no botão. Talvez a “culpa” se situe mais a montante… mas, ao que julgo saber, o seu comandante já assumiu a responsabilidade (coisa que nem todos os “chefes” são capazes de fazer) total pelo abatimento do avião ucraniano, acrescentando que preferia ter morrido (se foi sincero ou é conversa de chacha, já não sei).
      Deixe-me, por favor, corrigi-lo no assunto da senhora assalariada para “acarinhar” o marido. Este não é (para já) político, era (é?) presidente da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo. A precisão não é importante, mas serve para alijar os "políticos" desta responsabilidade, porque, infelizmente, já têm carga que chegue…
      Permita-me ainda esclarecer que, quando trouxe à baila a Arábia Saudita, não me quis referir às diferenças entre xiitas e sunitas, embora, é evidente, elas existam. Pretendi referir-me à diferença de civilizações (a persa e a árabe), nunca se podendo esquecer, obviamente, a questão religiosa subjacente, que o Fernando, muito oportunamente, aqui lembra.

      Eliminar
    3. As minhas desculpas por ter trocado o banqueiro pelo político.

      Eliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.