segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

ARISTIDES DE SOUSA MENDES: Quem salva uma vida salva a humanidade


Foi na madrugada fria e inóspita de 27/01/1945, no sul da Polônia, no então denominado campo de Auschwitz, que a humanidade começou a tomar conhecimento de um dos maiores e tenebrosos atos praticados contra seres humanos, em toda a história de nossa presença neste oásis sideral chamado Terra. E o que é pior: praticados por criaturas da própria espécie. Toda vez que se relembrar desses fatos escabrosos da 2ª grande guerra, é imperioso remetermo-nos à figura do diplomata e magnânimo humanista lusitano Aristides de Sousa Mendes.
Este singular e admirável ser humano foi Cônsul no Brasil na década de 1920, nas cidades de Curitiba, São Luiz do Maranhão e Porto Alegre. Consta que dois de seus filhos tenham nascido no nosso solo. Em 1940 assumiu o consulado em Bordéus, França, por designação do então ditador Salazar, em pleno furor da 2ª guerra mundial, da qual Portugal se declarava neutra.
 Na qualidade de Cônsul na França ocupada pela Alemanha, ele desafiou as ordens expressas de seu governo, concedendo mais de 30 mil vistos de entrada em Portugal a refugiados de todas as nacionalidades, dos quais cerca de 10 mil eram judeus.
Revelando uma coragem e determinação invulgares - e consciente do risco para sua vida e a da sua família - recusou-se a entregar milhares de pessoas a um destino certo nos campos de concentração nazistas. Confrontando com as ordens de Lisboa, ele teria dito: "Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".
O governo português, ao se sentir pressionado pela sua condição de país não beligerante, o destitui de suas funções no consulado. Sousa Mendes ainda apelou para o Supremo Tribunal Administrativo e para Assembleia Nacional, mas de nada lhe valendo estes recursos.
Para agravar a sua situação, ele foi colocado em disponibilidade com drástica redução salarial, e o pior: foi lhe proibido exercer a advocacia, com total retirada de oportunidades, inclusive aos seus filhos, que com isto foram obrigados a emigrar. Consta que dois deles, segundo informação da fundação que leva o seu nome, se juntaram ao exército americano na invasão da Normandia (Dia D).
Aqueles que defendem Salazar pelo excessivo rigor a ele aplicado, ao lhe ter tirado as mínimas condições de manutenção da família, alegam que o fez por pressão direta de Hitler que tinha inclusive pedido a sua cabeça, por não perdoar o Cônsul, principalmente por   ter concedido visto ao Príncipe Otto de Habsburg, filho do último imperador do império Austro-Húngaro. O ditador nazista considerava o Príncipe seu desafeto pessoal e o tinha jurado de morte.
O que nos causou estranheza foi, no pós-guerra, Salazar, mesmo tendo ficado com o mérito do salvamento de tantas pessoas, não o ter restituído ao seu antigo cargo, fato só acontecido simbolicamente após a sua morte com o título póstumo, “Ordem da Liberdade” em 1989, no governo de Mário Soares, onde a assembleia da República reparou a grave injustiça que lhe fora cometida, reintegrando-o no serviço diplomático por unanimidade e aclamação.
Dois fatos marcantes na vida humanitária deste diplomata português foram muito explorados pelos meios de comunicação: é que entre as várias pessoas salvas pelo seu gesto de rebeldia, está a do grande pintor Salvador Dali e por ele ter recebido em vida uma profunda admiração, respeito e amizade por parte do grande cientista Albert Einstein.
 Presume-se que a quantidade de descendentes oriundos dos judeus salvos, alcança a estimativa de 60 mil pessoas. Em reconhecimento aos seus atos humanitários, o seu nome foi inscrito em árvores plantadas em sua homenagem na avenida “Dos Justos Entre as Nações”, no museu do holocausto Yad Vashem, na cidade de Jerusalém.   
A sua destemida conduta solidária foi perfeitamente enquadrada dentro do espírito do provérbio judaico que diz: “Quem salva uma vida salva a humanidade”

4 comentários:

  1. Foi realmente uma grande figura da Humanidade; e notável é também este texto do professor Vivaldo. Obrigado.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amândio, quem escreveu isto foi o "genial mano" do Prof. Vivaldo e não este....

      Eliminar
  2. Excelente texto, com um resumo histórico, bem conhecido por todos nós, da vida dum garnde homem.

    ResponderEliminar
  3. Obrigado, Dr. Fernando, por me alertar; peço desculpa aos dois senhores brasileiros...

    ResponderEliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.