Foi
na madrugada fria e inóspita de 27/01/1945, no sul da Polônia, no então
denominado campo de Auschwitz, que a humanidade começou a tomar conhecimento de
um dos maiores e tenebrosos atos praticados contra seres humanos, em toda a
história de nossa presença neste oásis sideral chamado Terra. E o que é pior:
praticados por criaturas da própria espécie. Toda vez que se relembrar desses
fatos escabrosos da 2ª grande guerra, é imperioso remetermo-nos à figura do
diplomata e magnânimo humanista lusitano Aristides
de Sousa Mendes.
Este
singular e admirável ser humano foi Cônsul no Brasil na década de 1920, nas
cidades de Curitiba, São Luiz do Maranhão e Porto Alegre. Consta que dois de
seus filhos tenham nascido no nosso solo. Em 1940 assumiu o consulado em Bordéus,
França, por designação do então ditador Salazar, em pleno furor da 2ª guerra
mundial, da qual Portugal se declarava neutra.
Na qualidade de Cônsul na França ocupada pela
Alemanha, ele desafiou as ordens expressas de seu governo, concedendo mais de
30 mil vistos de entrada em Portugal a refugiados de todas as nacionalidades,
dos quais cerca de 10 mil eram judeus.
Revelando
uma coragem e determinação invulgares - e consciente do risco para sua vida e a
da sua família - recusou-se a entregar milhares de pessoas a um destino certo
nos campos de concentração nazistas. Confrontando com as ordens de Lisboa, ele
teria dito: "Se há que desobedecer,
prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem de Deus".
O governo português, ao se sentir
pressionado pela sua condição de país não beligerante, o destitui de suas
funções no consulado. Sousa Mendes ainda apelou para o Supremo Tribunal
Administrativo e para Assembleia Nacional, mas de nada lhe valendo estes
recursos.
Para
agravar a sua situação, ele foi colocado em disponibilidade com drástica
redução salarial, e o pior: foi lhe proibido exercer a advocacia, com total
retirada de oportunidades, inclusive aos seus filhos, que com isto foram
obrigados a emigrar. Consta que dois deles, segundo informação da fundação que
leva o seu nome, se juntaram ao exército americano na invasão da Normandia (Dia
D).
Aqueles
que defendem Salazar pelo excessivo rigor a ele aplicado, ao lhe ter tirado as
mínimas condições de manutenção da família, alegam que o fez por pressão direta
de Hitler que tinha inclusive pedido a sua cabeça, por não perdoar o Cônsul,
principalmente por ter concedido visto
ao Príncipe Otto de Habsburg, filho do último imperador do império
Austro-Húngaro. O ditador nazista considerava o Príncipe seu desafeto pessoal e
o tinha jurado de morte.
O
que nos causou estranheza foi, no pós-guerra, Salazar, mesmo tendo ficado com o
mérito do salvamento de tantas pessoas, não o ter restituído ao seu antigo
cargo, fato só acontecido simbolicamente após a sua morte com
o título póstumo, “Ordem da Liberdade” em 1989,
no governo de Mário Soares, onde a assembleia da República reparou
a grave injustiça que lhe fora cometida, reintegrando-o no serviço diplomático
por unanimidade e aclamação.
Dois
fatos marcantes na vida humanitária deste diplomata português foram muito
explorados pelos meios de comunicação: é que entre as várias pessoas salvas
pelo seu gesto de rebeldia, está a do grande pintor Salvador Dali e por ele ter
recebido em vida uma profunda admiração, respeito e amizade por parte do grande
cientista Albert
Einstein.
Presume-se que a quantidade de descendentes
oriundos dos judeus salvos, alcança a estimativa de 60 mil pessoas. Em
reconhecimento aos seus atos humanitários, o seu nome foi inscrito em árvores
plantadas em sua homenagem na avenida “Dos Justos Entre as Nações”, no museu do
holocausto Yad Vashem, na cidade de Jerusalém.
A sua destemida conduta solidária
foi perfeitamente enquadrada dentro do espírito do provérbio judaico que diz: “Quem
salva uma vida salva a humanidade”
Foi realmente uma grande figura da Humanidade; e notável é também este texto do professor Vivaldo. Obrigado.
ResponderEliminarAmândio, quem escreveu isto foi o "genial mano" do Prof. Vivaldo e não este....
EliminarExcelente texto, com um resumo histórico, bem conhecido por todos nós, da vida dum garnde homem.
ResponderEliminarObrigado, Dr. Fernando, por me alertar; peço desculpa aos dois senhores brasileiros...
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