A EDUCAÇÃO DAS
MULHERES
Parecerá
paradoxo a estes Catões Portugueses ouvir dizer que as Mulheres devem estudar;
contudo, se examinarem o caso, conhecerão que não é nenhuma parvoíce ou coisa
nova, mas bem usual e racionável. Pelo que toca à capacidade, é loucura
persuadir-se que as Mulheres tenham menos que os Homens. Elas não são de outra
espécie no que toca a alma; e a diferença do sexo não tem parentesco com a
diferença do entendimento. A experiência podia e devia desenganar estes homens.
Nós ouvimos todos os dias mulheres que discorrem tão bem como os homens; e
achamos nas histórias mulheres que souberam as Ciências muito melhor que alguns
grandes Leitores que nós ambos conhecemos. Se o acharem-se muitas que discorrem
mal fosse argumento bastante para dizer que não são capazes, com mais razão o
podíamos dizer de muitos homens. Compare V. P. uma freira moça da Corte com um
galego de meses, e verá quem leva vantagem. De que nasce esta diferença? Da
aplicação e exercício, que um tem e outro não tem. Se das mulheres se
aplicassem ao estudo tantas quantas entre os homens, então veríamos quem
reinava.
Quanto à
necessidade, eu acho-a grande que as mulheres estudem. Elas, principalmente as
mães de família, são as nossas mestras nos primeiros anos da nossa vida: elas
nos ensinam a língua; elas nos dão as primeiras ideias das coisas. E que coisa
boa nos hão-de ensinar, se elas não sabem o que dizem? Certamente que os
prejuízos que nos metem na cabeça na nossa primeira meninice são sumamente
prejudiciais em todos os estados da vida; e quer-se um grande estudo e reflexão
para se despedir deles. Além disso, elas governam a casa, e a direcção do
económico fica na esfera da sua jurisdição. E que coisa boa pode fazer uma
mulher que não tem alguma ideia de economia? Além disso, o estudo pode formar
os costumes, dando belíssimos ditames para a vida; e uma mulher que tem alguma
notícia deles pode, nas horas ociosas, empregar-se em coisa útil e honesta, no
mesmo tempo que outras se empregam em leviandades repreensíveis. Muito mais,
porque não acho texto algum da Lei, ou Sagrada, ou Profana, que obrigue as
Mulheres a serem tolas, e não saberem falar.
Nota – Na
tentativa de encontrar um livro que não sei onde pára, abrindo caixotes e
desapertando velhos pacotes, encontrei uma selecta literária do meu tempo de
rapaz, de onde trancrevo este texto que acho delicioso, das Cartas de Luís
António Verney – 1713-1792, “Verdadeiro Método de Estudar”, que me pareceu
interessante partilhar…
Amândio G.
Martins
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