O País está a arder, não o País dos campos de golfe e dos jardins finamente relvados, das piscinas com o bordo da água na linha do horizonte , em que as mulheres carregadas de tédio e pulseiras caras, jazem esparramadas sobre as folhas das revistas, onde aparecem elas, sempre as mesmas.
Seus homens - viris porque hirtos - todos vestidos com os mesmos símbolos na lapela, entretêm o tempo em conversas sobre alta política, governança, tecem alianças e futuros benefícios de uns e outros. Sempre na maior das educações, tratando-se senhorialmente - até com os filhos que não têm culpa.
Exuberantes, viçosos, pululantes de vida, esses jardins.
Nesse País hipotético, o País não está a arder: os seus frequentadores fazem o jogo das conveniências, mero passar o tempo, à beira de uma piscina.
Ardendo muito ou pouco, eles vão continuar assim: vestidos do mesmo sorriso, num fim de dia a assistirem a um jogo de futebol num estádio que custou ouros para nada, ou rodeados de guarda-costas, tropeçando nos chinelos de pé que não estão habituados, quando em momentos de fastio da piscina, decidem banharem-se na praia.
Não são diferentes os socialistas do champanhe, dos beatos do caviar. São inúteis, e todavia: mandam tudo.
E todavia, perdem-se eleições por três cartazes mentirosos; e todavia, não se ganham eleições em engenhos ardilosos nas estatísticas da falta de emprego.
Todavia por fim, e cansados já desta palavra, mesmo que em seus mundos imaginários todos eles ganhem as eleições (perder por cinco por cento ou ganhar com essa vantagem, é sempre ganhar porque sabem que este pequeno mundo gira e alterna e daqui a nada quem perdeu está outra vez a tomar posse dos cadeirões), o País continuará a arder em fogo brando.
Os Kamov- todos os que comprámos – já estão operacionais? E o gabinete de estratégia e planeamento do INEM já levou a despacho à sua Direcção o plano de verão para o Algarve?
Nada disso aconteceu? Não importa, estamos todos de férias, da nossa própria decência!
Publicado hoje, dia 12.08.2015, no jornal Público, o que prova a inteligência de quem dirige a secção, pois percebe, e bem, a ironia. Parabéns ao Luís.
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