Este livro é um pedaço de História, da História tal como eu a
vi. Este livro apenas pretende ser uma narrativa pormenorizada da Revolução de
Outubro, isto é, dos dias em que os bolchevistas, à frente dos operários e dos
soldados da Rússia, tomaram conta do poder do Estado e o depuseram nas mãos dos
Sovietes.
Refere-se, principalmente, a Petrogrado, que foi o centro, o
próprio coração da insurreição. Mas o leitor deve atentar bem em que tudo
quanto se passou em Petrogrado se repetiu em toda a Rússia quase exactamente,
com intensidade maior ou menor, e com intervalos mais ou menos longos.
Assim começa John Reed o seu prefácio, na primeira publicação
de «Dez dias que abalaram o Mundo», escrito em Nova Iorque, em 1 de Janeiro de
1919. Finalizando o mesmo como segue:
Qualquer que seja a opinião sobre o bolchevismo, é inegável
ter sido a Revolução Russa um dos grandes acontecimentos da história da
humanidade, e que a subida dos bolchevistas ao Poder constituiu um facto de
importância universal. Assim como os historiadores se esforçam em reconstruir,
nos mínimos pormenores, a história da Comuna de Paris, desejam também devassar
o que sucedeu em Petrogrado em Novembro de 1917, o estado de espírito do povo,
a fisionomia dos seus chefes, as suas palavras, os seus actos. Foi com esse
pensamento que escrevi este livro.
No decurso da luta, não eram neutras as minhas simpatias.
Mas, esboçando a história dessas grandes jornadas, quis considerar os acontecimentos
como cronista consciencioso, que se esforça por fixar a verdade.
John Reed nasceu a 22 de Outubro de 1887, em Portland, nos
Estados Unidos. Depois dos estudos primários foi para a Universidade de
Harvard. Teve uma intensa actividade política e como jornalista. Foi a primeira
vez à Rússia em 1915, regressou aos Estados Unidos e depois voltaria à Rússia
em 1917, onde acompanharia os acontecimentos da Revolução de Outubro. Morreu
com 33 anos, em 17 de Outubro de 1920, vítima dum tifo.
Num texto «John Reed, o jornalista das barricadas», que
antecede o prefácio de Reed, o escritor Egon Ervin Kisch, jornalista e escritor
checoslovaco e austríaco, que escreveu em alemão, termina o mesmo, assim:
Na Praça Vermelha, em Moscovo, perto da muralha do Kremlin,
está enterrado o filho dos burgueses americanos, que tinha o coração
revolucionário. Nessa Praça Vermelha, entre as cúpulas, as muralhas e as ameias
de aspecto fantástico, descritas magistralmente no seu livro, quando pinta o
quadro dos funerais daqueles que morreram pela Revolução, nessa mesma Praça
Vermelha, John Reed dorme para sempre.
«Aqui, neste lugar sagrado, o mais sagrado de toda a Rússia,
descansam os nossos melhores camaradas» - são palavras de Reed. E ali mesmo foi
sepultado. Ao seu lado, está o cadáver do homem que encarnou o seu ideal e foi
o seu guia. John Reed não poderia , realmente, ter desejado melhor lugar para o
seu túmulo. Está ao lado do sepulcro de Lenine.
A História, toda, não deve ser nunca ocultada ou retocada. Daí que este livro, de há 100 anos, mereça todo o relevo que lhe dá. Somos o que somos mergulhando, sempre, as raízes nos de onde e de quem vimos. Num "continuum" em que vamos aprendendo, umas vezes parando no tempo e nas ideias, outras modificando o que pensamos e fazemos. No meu caso, o que veio depois do livro foi uma grande aprendizagem do segundo tipo.
ResponderEliminarJohn Reed sentiria vergonha se lhe fosse dado ver hoje o que fizeram daquela ideia que tanto o empolgou...
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