Foi há já 50 anos...
...E gostava de poder acreditar que já não é possível
assistir hoje a um quadro igual, mas receio que ele possa verificar-se, mais do
que muitos podemos imaginar, em vários lugares deste nosso tão desigual país.
Levava apenas alguns meses no estágio de um ano a que a empresa para a qual fui
trabalhar obrigava o pessoal acabado de entrar, levando-o a circular por todas
as zonas do país onde tinha representação, ficando uma semana com um, a que se
seguia a mesma rotina com o próximo, até completar a volta pelo país inteiro,
no fim do que, analisados os informes enviados pelos responsáveis de zona para
a respectiva direcção, era decidido se ficava efectivo na empresa ou ia pregar
para outra freguesia.
Naqueles frios dias de dezembro andava em Évora e calhou de
almoçarmos num conceituado restaurante
do centro da cidade; sentado com o colega da zona a uma mesa próxima da
“montra”, falávamos das incidências da actividade da empresa naquela área,
“tasquinhando” alguma coisa enquanto não vinha a comidinha pedida, que depressa
chegou.
Saboreávamos uma carne alentejana, e à alentejana, quando nos
despertou o empregado que enxotava um
rapazinho franzino, pobremente vestido que, com o nariz “esborrachado” no vidro,
olhava quem comia; vimos que o miudo recuou por uns momentos, mas voltou
quando o empregado se afastava, momento que aproveitei para lhe fazer sinal se
tinha fome, embora me parecesse evidente, ao que lhe sorriram os olhos tristes,
abanando a cabeça que sim; abrimos discretamente dois pãezinhos, metemos dentro
bocados de carne tirados da travessa e fiz-lhe sinal para ir à porta, onde lhe
entreguei aquele lanchinho e o vi correr agradecido por um bocado de comida que
lhe era devida por uma sociedade insensível às suas necessidades...
Bom Natal, com saúde e alegria - e algumas rabanadas também - na companhia daqueles que mais vos querem...
Amândio G. Martins
Agradeço e retribuo, caro Amândio.
ResponderEliminarObrigado Amândio e votos de Bom Natal para si e para os seus!
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