PARTE II
OS INTOCÁVEIS
Quais vidrinhos de cheiro, ninguém lhes pode tocar. Quebram-se ao mais pequeno toque, pensam-se acima da turba, o que não é tão mau como isso. Pior é sentirem-se incomodadíssimos se alguém diz que a obra-prima que eles pensam ter feito não passa de um reles contributo para aumentar ainda mais a estupidez global. A crítica, quando lhes é aplicada de forma negativa, não devia existir, e é, para eles, invenção do demónio, aproveitada pelos malfeitores à solta, que preferem dizer o que sentem a contemporizar com a mediocridade.
A SURDEZ
Esta casta de gente prima por acarretar consigo um defeito terrível com que a mãe natureza os dotou: a surdez. Em contrapartida, a mesmíssima mãe também os dotou de uma habilidade extrema para se deslocarem em tão sinuosos quanto ardilosos movimentos nos labirintos mentais que foram construindo ao longo da vida. Essa habilidade, a que alguns chamam esperteza, as mais das vezes saloia, permite-lhes que só oiçam o que lhes convém. Por isso, quando directamente invectivados a responder a perguntas concretas, fazem-se desentendidos, arrastam o pé no chão, apontam para o céu, e respondem com outra coisa qualquer, na convicção de que o perguntador se distraia com a ausência de silêncio que provocaram. A este propósito, ocorre-me referir que ainda estou à espera de respostas que neste mesmo blogue fiz. E os inquiridos nem tugem nem mugem.
A CRÍTICA
Já me referi a este tópico, mas ainda me faltam dizer umas pequenas considerações. Os criticados, quando se diz mal das suas obras, reagem de duas formas: se são honestos e inteligentes, agarram a oportunidade para verificarem se, na próxima, conseguem fazer melhor; se são vaidosos e emproados, acham que o crítico não percebe nada do assunto e, ainda por cima, está carregadinho de má-fé. Estes nunca percebem a sua mediocridade.
O ESQUECIMENTO
Acompanha, normalmente, a dissimulação e a surdez. Quando a conversa não interessa, atiram para canto e rapidamente se esquecem do dever. O meu arquivo não é grande coisa, mas posso coligir, com alguma facilidade, diversas afirmações escritas por certos “esquecidos” que talvez os faça abrir a boca de espanto. Aviso já, contudo, que não estou disposto a perder tempo a organizar essas colecções, nem que seja a pedido das melhores famílias. Cada qual que se deixe de preguiças e faça os seus testes de coerência.
AS MANIAS
Há quem se divirta, possivelmente na procura do orgasmo final, com o cultivo de manias. Em extremo, poderão chegar a elaboradíssimas teorias da conspiração. Pois que lhes façam bom proveito, mas, se for possível, não chaguem a paciência dos outros. Eu bem sei que uma mentira muitas vezes repetida pode dar uma verdade inatacável (para eles). Mas, francamente, a quem não anda neste mundo só para chatear os outros, por favor, dêem tréguas. Digam as coisas, pois claro, mas repetirem-se ad infinitum não vos fica nada bem, e não abona muito ao julgamento que os outros fazem das vossas inteligências.
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