Que a burocracia não atrapalhe...
Há cerca de um mês que os trabalhadores da “Galiza”,
cervejaria-restaurante do Porto, trabalham em autogestão, “sem mãos a medir”
para atender tanta clientela, tal a simpatia que a sua situação tem gerado; com
importantes pagamentos em atraso, de ordenados, água, luz e gás, dívidas ao
fisco e Segurança Social, seria interessante saber como foi possível que, numa
casa feita e bem afreguesada, os titulares deixaram degradar tanto a situação,
a ponto de levarem a casa à falência e os trabalhadores ao desemprego.
Só que estes, não aceitando tal destino, tomaram conta da
gestão e, em pouco tempo, estão a equilibrar as contas de exploração, com
ordenados em dia e acerto de pagamentos atrasados, para não ficarem impedidos
de manter a casa em funcionamento; trabalham muito e revesam-se na vigilância
nocturna do estabelecimento, evitando que lhes aconteçam as golpadas do costume
em tais situações, só precisando agora que a burocracia não atrapalhe e possam
continuar a servir com simpatia e competência a crescente clientela, que se tem
mostrado solidária.
Às autoridades competirá averiguar como foi possível deixar
acumular tamanha dívida, e para onde foi o dinheiro que desviaram de onde era
devido; de facto, parece-me que será por aí que deverão tentar recuperar o
dinheiro, não imputar as dívidas aos trabalhadores, fazendo depender a
continuação do estabelecimento de pagamentos de que não são responsáveis
porque, se forem por essa via, acabará por se perder tudo, postos de trabalho e
dinheiro em atraso...
Amândio G. Martins
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