domingo, 22 de dezembro de 2019

Herói Acidental

Na minha juventude, durante algum tempo, vivia eu nas imediações da Praça Tiradentes, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Zona antiga e degradada povoada de casas de espetáculo decadentes, em fim de ciclo.
Assad, o meu amigo "turco" - que nomeei aqui um pouco atrás num comentário - era habitual frequentador da zona. (No Brasil, cidadão do Médio Oriente, é "turco").
Este, era um valente. Daqueles capazes de sobreviverem sozinhos, despojados de tudo, no meio do deserto. Para além de fazer uns negócios no mínimo, esquisitos, era membro de um esquadrão especial da Polícia Federal.

Numa noite, após o espetáculo de sala quase vazia do Teatro Recreio, encontráva-me ali mesmo ao lado, no Bar do Mota (também quase vazio), a beber umas cervejolas, com o "turco", o galego Paquito e uma atriz falhada, amiga comum.
Sorrateiramente, por uma das portas altas, sempre abertas, entra um crioulo "praí" com 2m de altura, empunhando um punhal. Ía à procura de quem o tinha metido no "xadrês" durante uns pares de anos.
Corremos para junto da porta de saída mais próxima. O "seu" Mota agachou-se atrás do balcão. O Assad agarrou numa cadeira, virando as pernas para o intruso.
Por sorte, ía mesmo a aproximar-se um carro-patrulha. Corri na sua direcção informando o que se passava. Foram rápidos a agir. Garantiram que atingiram o marginal. A verdade é que conseguiu fugir.

O meu amigo turco contava a diversos conhecidos comuns: O Valdigem, o portuga, salvou-me a vida.

Eu, logo eu, homem de paz, um cagarolas, incapaz de bater seja em quem for, viro herói?

José Valdigem

2 comentários:

  1. Se o José Valdigem tivesse situado a “acção” numa noite de Consoada, teríamos aqui um bom Conto de Natal. Ou, pelo menos, divertido.

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  2. "A sorte protege os audazes", mesmo sem audácia nenhuma; seja como for, "o artista é um bom artista"...

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