Tiveram
uma relação fugaz com final mal resolvido. Havia anos que não se
viam, aconteceu por acaso nas vésperas de Natal. A emoção foi
reciproca. Cumprimentaram-se calorosamente, fizeram o ponto da
situação em relação às suas vidas e, um tanto inesperadamente,
ela pergunta-lhe: então estás com pressa? A pergunta provoca nele
um misto de surpresa e satisfação. Demorou um pouco; porquê? Ela
baixa os olhos como que arrependida pela pergunta, e, baixinho,
podíamos ir tomar um cafezinho! E ele, estava!... Olharam-se nos
olhos, sorriram, ele acariciou-lhe a cabeça e lá foram.
À
saída do café, simulando uma despedida que ambos não queriam,
pergunta-lhe ele; então com quem vais passar o Natal? Agora foi a
vez dela fazer o compasso de espera e, olha… hesitante, acaba por
dizer que estava a pensar ir a casa da irmã e que iam buscar a mãe
que está num lar. E tu? Eu vou para casa da minha velhota. Vai lá
também o meu irmão a minha cunhada e os miúdos. E ela replica, mas
perguntaste porquê? sei lá! Por mim,até podíamos passá-lo
juntos. Juntos? Então ias deixar a tua mãe sozinha? Sozinha? Não
te disse que vai lá o meu irmão, a minha cunhada e os putos! Para
ti é que era chato, deixares a tua mãe e a tua irmã só as duas.
Ah! Lembrei-me agora, vão também os meus tios.
Bom,
diz ele, então a minha sugestão mantém-se. Que dizes? Não sei…
deixa-me pensar e depois dou-te a resposta. Ok! despediram-se e
foram-se embora. Passada nem uma hora, já ela lhe estava a ligar:
olha, tá bem! Aceito. Ele, linda menina! Então, até dia 24.
Depois
do tradicional bacalhau com batatas e couves e um bom vinho tinto que
ele levou, beberam vinho do Porto e comeram bolo feito por ela, que
ele elogiou mil vezes. Já passava da meia noite, diz ele: bem,
vou-me embora! Ela aconchegou-se nele, e sussurou-lhe ao ouvido: não
vás! Beijaram-se sôfrega e calorosamente, e… ele não foi.
Francisco
Ramalho
Corroios,
21 de Dezembro de 2019
Boas Festas a todos/as
Lindíssimo texto. Parabéns.
ResponderEliminarObrigado, amigo Valdigem!
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