domingo, 22 de dezembro de 2019

CONTO DE NATAL




Tiveram uma relação fugaz com final mal resolvido. Havia anos que não se viam, aconteceu por acaso nas vésperas de Natal. A emoção foi reciproca. Cumprimentaram-se calorosamente, fizeram o ponto da situação em relação às suas vidas e, um tanto inesperadamente, ela pergunta-lhe: então estás com pressa? A pergunta provoca nele um misto de surpresa e satisfação. Demorou um pouco; porquê? Ela baixa os olhos como que arrependida pela pergunta, e, baixinho, podíamos ir tomar um cafezinho! E ele, estava!... Olharam-se nos olhos, sorriram, ele acariciou-lhe a cabeça e lá foram.
À saída do café, simulando uma despedida que ambos não queriam, pergunta-lhe ele; então com quem vais passar o Natal? Agora foi a vez dela fazer o compasso de espera e, olha… hesitante, acaba por dizer que estava a pensar ir a casa da irmã e que iam buscar a mãe que está num lar. E tu? Eu vou para casa da minha velhota. Vai lá também o meu irmão a minha cunhada e os miúdos. E ela replica, mas perguntaste porquê? sei lá! Por mim,até podíamos passá-lo juntos. Juntos? Então ias deixar a tua mãe sozinha? Sozinha? Não te disse que vai lá o meu irmão, a minha cunhada e os putos! Para ti é que era chato, deixares a tua mãe e a tua irmã só as duas. Ah! Lembrei-me agora, vão também os meus tios.
Bom, diz ele, então a minha sugestão mantém-se. Que dizes? Não sei… deixa-me pensar e depois dou-te a resposta. Ok! despediram-se e foram-se embora. Passada nem uma hora, já ela lhe estava a ligar: olha, tá bem! Aceito. Ele, linda menina! Então, até dia 24.
Depois do tradicional bacalhau com batatas e couves e um bom vinho tinto que ele levou, beberam vinho do Porto e comeram bolo feito por ela, que ele elogiou mil vezes. Já passava da meia noite, diz ele: bem, vou-me embora! Ela aconchegou-se nele, e sussurou-lhe ao ouvido: não vás! Beijaram-se sôfrega e calorosamente, e… ele não foi.
Francisco Ramalho
Corroios, 21 de Dezembro de 2019

Boas Festas a todos/as




2 comentários:

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