domingo, 8 de dezembro de 2019


O que semeares, colherás...


Embora educado no respeito por todas as raças e credos, Roman Turski confessa que, enquanto adolescente, apedrejou algumas lojas de judeus em Varsóvia, sem que isso lhe provocasse qualquer remorso. Tendo feito um curso de piloto de aviação, conseguiu mais tarde emprego num aeroclube francês, em Lyon, onde trabalhava quando estalou a 2ª Grande Guerra.

Quando Hitler anexou a Áustria, e a guerra ameaçava alastrar, abandonou o emprego e pôs-se a caminho da Polónia, mas o pequeno avião teve uma avaria que o obrigou a uma aterragem imprevista em Viena, para reparar a falha mecânica. Na manhã seguinte, à saída do hotel onde se hospedara, chocou com ele um homenzinho franzino que corria desesperado, pronunciando “Gestapo, Gestapo!”; subiu com ele para o quarto que acabara de deixar e, como era uma pessoa muito magra, meteu-o na cama desarrumada e esperaram.

Os esbirros de Hitler chegaram, viram os documentos, e às perguntas que lhe faziam só respondia que não entendia alemão; quando os nazis saíram destapou o fugitivo e, com auxílo de um mapa, fez-lhe perceber que ia para a Cracóvia, o que fez brilhar os olhos daquele homem, que só queria saír dali.

Reparada a avaria, o jovem polaco conseguiu - dizendo aos funcionários que o acompanhante era um amigo que se queria despedir no avião -  levantar vôo com o passageiro clandestino; prevendo que aquela habilidade iria ser comunicada para o aeroporto de destino, fez uma aterragem num campo próximo do aeroporto, para dar ao homem possibilidade de escapar e, quando as autoridades chegaram, mentiu que o avião não estava bem e temeu não ter tempo de chegar ao aeroporto.

Alistou-se na Força Aérea polaca, combateu e foi abatido; feito prisioneiro, conseguiu fugir e alistou-se na Força Aérea francesa, quando a França foi invadida fugiu para Inglaterra e alistou-se na respetiva força Aérea, tendo participado na Batalha de Inglaterra, até que foi mais uma vez atingido, tendo aterrado em estado grave.

No hospital que o recebeu foi considerado inútil operá-lo, tal era a situação. Entretanto, ao ler que havia um herói polaco em estado desesperado num hospital da Escócia, um neurocirurgião a trabalhar em Inglaterra  pediu que o transportassem àquele hospital, onde operou o jovem piloto.  Este, recuperando lentamente, ia notando um rosto que o fitava atentamente e, testando se tudo estaria bem,  lhe perguntava se se lembrava dele: “Salvou-me a vida em Viena, lembra-se?” Este médico era o judeu que em Viena fugia apavorado da Gestapo, tendo chegado a sua oportunidade de mostrar gratidão por quem o tinha ajudado...



Amândio G. Martins










2 comentários:

  1. Trata-se de resumo de uma narrativa que o próprio piloto, Roman Turski, fez num livro onde se descrevem episódios da terrível guerra

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