De um estudo recente da autoria de investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública, ficámos a saber que a prontidão com que as autoridades portuguesas actuaram face ao surto do coronavírus, a par da correcção do comportamento da população, beneficiaram o país, durante a primeira quinzena de Abril, com a “poupança” de 146 mortes pela doença associada. Sem desvalorizar a oportunidade e o rigor “milimétrico” do estudo, ficou-me uma dúvida, ocasionada pela omissão de possíveis consequências paralelas das medidas tomadas. Seria bom saber-se, por exemplo, se houve mortes, e quantas, por efeitos colaterais desencadeados pela abstenção de muitos que, por pavor, evitaram visitas a centros de saúde e hospitais, ou por terem sido eventualmente colocados em lista de espera porque não eram “urgentes” (a hierarquização das prioridades é um facto da vida quotidiana, incluindo a médica, e não só quando se escolhe o destinatário de um ventilador). Já sem pensar nos que morrem do desemprego e outras fragilidades sociais, actuais e no futuro, como consequência indirecta das medidas. Provavelmente, tal como se verifica na maioria das questões relacionadas, a resposta a esta dúvida girará em torno da trivialidade reinante do “ainda não se sabe, ainda não há dados suficientes, etc.”.
Se já nos sentimos reconfortados com a justeza das medidas tomadas, não poderemos ainda dispensar a sugestiva imagem que João Miguel Tavares nos deu na sua crónica de quinta-feira: “convém que a civilização humana não fuja para cima de uma árvore quando se desconhece o verdadeiro perigo daquilo que a persegue”.
Somente confronto entre um economista e um médico? Não o creio, muito embora a diferente "circunstãncia" que se ajusta ao "eu" de cada um de nós, faça de ambos um "Eu diverso. E, no nosso caso, com diferente "exegese" do que se está a passar. O seu cotejo entre "mortos" é quase "provocatório, pois parece-me muito mais importante saber o número dos que se terão salvo devido à acção competente das autoridades, na epidemia, do que especular sobre os que se poderiam ter salvo se tudo o resto funcionasse exemplarmente. E, desde já digo que mesmo a ter havido algum destes últimos ( e houve com certeza), nem toda a "culpa" caberá a mau planeamento/execução mas aos próprios, devido ao tal pavor ou mau discernimento pessoal. Neste último caso, recordo as reportagens televisivas - como na Cardiologia do Centro Hospitalar do Porto - em os médicos bem os "chamavam" mas os doentes... não compareciam. A sua citação do João Miguel Tavares, que, em parte, subscrevo também contem uma leitura dupla pois pode haver, por parte do articulista, a insinuação de que estamos, no confinamento necessário ( veja-se o que o Reino Unido e a Suécia "pagaram" pela inicial "bravata" de abertura total...), a "regressar aos primatas" que nos antecederam na evolução darwiniana...
ResponderEliminarSaúde? Economia? Obviamente que a pergunta, em alternativa, é falaciosa, mas que a vida biológica é donde se parte para tudo o resto e se a não tomarmos como "primo movens" ( sei que não é essa a sua intenção, obviamente), o que advém...é nada! Espero fortemente que a lucidez dos governantes se mantenha e, agora que a economia abre, o euilíbrio da razão nunca perca o tino.
Nota: embora o José só o tivesse mencionado "en passant", nunca houve escolha de destinatários para os ventiladores, em Portugal. Houve com certeza em Espanha e Itália ( só estou afalar na Europa) e... espero que tenha sido eticamente justa. Vou mais longe: tenho a certeza que sim.
Caro Fernando,
EliminarApesar do comedimento, excedi-me no número de caracteres permitido aos comentários (4.096) e o blogue “calou-me”. Remeto-o, com sua licença, para um post autónomo, publicado de imediato.
Já o li. E lá comentarei. Obrigado.
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